Os anos vivenciados no Liceu Cuiabano foram tão intensos que é maravilhoso lembrar até hoje.
Os professores a quem chamávamos "mestres" despertavam nossa atenção para os conhecimentos de uma forma incrível. Afnal, não existia datashow, filmes, aulas de campo, somente quadro negro e giz.
É claro que a matemática nunca foi meu forte e o "mestre" não era dos melhores... Ele estava sempre bêbado e às vezes dormia sentado na cadeira enquanto nós copiávamos a matéria do quadro negro.
A professora de História essa me deixava de boca aberta e ouvidos atentos.
Quando ela explicava sobre a História Antiga eu me via no Egito, Mesopotâmia, Grécia. Nunca me esqueço dos Jardins Suspensos da Babilônia e da decepção quando vi uma foto do mesmo; pois eu ficava imaginando como seria um jardim suspenso nos céus e na realidade era um edificio com um jardim no alto. Nem precisa dizer que me apaixonei por todas as Histórias que ela "contava".
As aulas de práticas do lar era uma forma de dizer que toda mulher nasceu para casar e ter filhos. Nós aprendiamos principalmente a cuidar das crianças: numa banheira a gente aprendia a dar banho nas crianças, bonecas de plástico, sem deixá-las cair e coisas mais... Como filha mais velha eu já sabia tudo aquilo.
A professora de francês dava medo. Ela se vestia de preto; acho que era luto pela morte do marido.Sempre falava em francês com biquinho e tudo. O pior era recitar o "ponto" para toda a sala. É claro que ninguém ria, mas ela dava um olhar de congelar a alma. Quando cursava História na UFMT me matriculei na Aliança Francesa e estudei por oito anos seguidos; no fundo eu gostava de fazer aquele biquinho.
Não me lembro porque as aulas de educação física era na atual praça Santos Dumont. Às 6:30 começava a aula e como eu morava ali na praça da Boa Morte chegava rapidinho. Antes subia pela rua Cândido Mariano e passava pelo casarão tenebroso, hoje funcionava lá uma parte do SESI, que os antigos diziam ser assombrado. Ainda vou entrar lá para visualizar seu interior e quem sabe descobrir algum fantasma.
As aulas de português era ministrada por uma professora muito bonita e de belos olhos verdes.Era a professora mais elegante que nós tinhamos. Ainda me lembro de uma redação que ela pediu para escrevermos : "um pingo d'água na vidraça". Ela dizia que para escrever bem deveríamos ler muito e ter um dicionário. Eu começei com os HQs, telenovelas, livros de bolso, clássicos...
As aulas de educação artística era relaxante e até conseguiamos "cantar" o luar do sertão sem abrir a boca.Caso alguém desafinasse ela mandava começar tudo de novo.
O civismo era parte da educação e uma vez por semana cantávamos o Hino Nacional no pátio e em fila. Todos ficávamos em respeitoso silêncio e as vozes afinadas ecoavam altas e claras.
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