“A princípio, possivelmente o cultivo da terra foi uma atividade
praticada pelas mulheres, assim como a coleta de frutos e raízes comestíveis,
de que se teria originado a agricultura,
e talvez a domesticação dos animais. A caça era atividade masculina, tendo sido
por muito tempo o principal meio de subsistência da comunidade. Porém, mesmo
depois que a caça teve diminuída a sua importância econômica, em algumas
comunidades esse fato não correspondeu ao seu declínio em prestígio social e
político.
Na realidade, a contribuição da
caça, atividade praticada pelos homens, era ocasional, enquanto que a coleta de
frutos e raízes, atividade feminina, era muito mais regular. Já havia,
portanto, na comunidade primitiva uma
divisão natural de trabalho. As mulheres, tanto quanto os homens
asseguravam o sustento do grupo, embora cuidassem também das tarefas
domésticas.
No antigo lar comunista, que
compreendia, numerosos casais, a divisão do lar, confiada `as mulheres era uma
indústria tão necessária quanto a busca de víveres, de que ficavam encarregados
os homens.
Na comunidade primitiva, as
mulheres não viviam “fechadas dentro de casa”- na verdade não havia casas
individuais para uma só família : os abrigos eram habitações coletivas. Os
artesanatos neolíticos foram apresentados como indústrias domésticas.
Não obstante, não constituem
tradições individuais, mas coletivas. A experiência e o conhecimento de todos
os membros da comunidade são constantemente reunidos.(...).
Todas as mulheres da aldeia
trabalham juntas, conversando e comparando seu trabalho: chegam a ajudar-se
mutuamente. A ocupação é pública, mas as regras resultam da experiência
comunal.
O trabalho era realizado
coletivamente, tendo nele homens e mulheres uma mesma importância. A mulher não
era apenas reprodutora, embora esse papel fosse importante e necessário para a
própria sobrevivência da comunidade : assegurar o crescimento do grupo era uma
necessidade objetiva da comunidade primitiva – donde as práticas usuais da poligamia e da endogamia,
dos casamentos entre parentes (permitidos a princípio), etc.
Não se deve, porém idealizar a
época “primitiva”. Tais práticas não eram, propriamente, uma opção individual,
mas o resultado das condições da forma de
organização econômica da sociedade, a fim de assegurar o crescimento
numérico da espécie, principalmente com o início do pastoreio e da agricultura,
que permitiram empregar o trabalho das crianças, ao contrário da caça,
atividade de adultos. Ao mesmo tempo, o pastoreio e a agricultura,
possibilitando fazer reservas, tornaram possível o aumento da população.
A importância da mulher
deveu-se, também, à sua condição de
criadora, fixadora e transmissora de hábitos culturais, da experiência coletiva
acumulada pelo grupo. Num certo sentido, pode-se dizer que a Revolução Neolítica – passagem à
agricultura – foi obra das mulheres, assim como a domesticação dos animais
(origem da pecuária), a fabricação da cerâmica, a fiação e a tecelagem (linho e
algodão), a medicina caseira, etc.
Além disso, transmitiram esses
conhecimentos às novas gerações, fixando e difundindo hábitos culturais.
Inicialmente, na comunidade
primitiva, a mulher ocupava uma posição de igualdade e mesmo de superioridade
em relação ao homem. Devido aos casamentos múltiplos, a linha de parentesco era
dada pela mãe, isto é, a descendência se contava em linha feminina – é o direito materno (
matriarcado). Quando, mais tarde, correspondendo ao aparecimento da propriedade privada dos rebanhos e, depois da terra, o
direito materno foi derrubado, a linha de descendência passou a se fazer pelo
pai, a fim de garantir o direito dos
filhos à herança (patriarcado). Começou-se, então, a exigir da mulher a
virgindade, antes do casamento, e a fidelidade conjugal, depois dele. Para
assegurar a fidelidade da mulher e, por conseguinte, a paternidade dos filhos,
aquela é entregue, sem reservas, ao poder do homem : quando este a mata, não
faz mais do que exercer o seu direito.
A monogamia foi a condição imposta, principalmente à mulher, para
garantir ao homem a certeza da paternidade e legitimar os filhos com o direito
à herança (partilha dos bens após a morte do pai)
O rompimento dos laços conjugais
– o divórcio - , que antes podia ser feito por qualquer um dos cônjuges (homem
ou mulher), em algumas sociedades passou a ser privilégio do homem.
Idealizou-se o papel biológico feminino : a maternidade foi santificada.
Tais modificações ocorriam ao
nível jurídico- político e ideológico da sociedade, porquanto o papel econômico
da mulher continuava tão importante quanto o do homem, por exemplo na
agricultura, base da maior parte das sociedades antigas.
A opressão da mulher não foi produto da mente “má” dos homens
individualmente, mas uma exigência objetiva da propriedade privada
dos meios de produção, quando a mulher também se tornou um objeto do homem
– tal qual a terra, o gado, os escravos, etc.”
Aquino, Rubim S. Leão de. História
das Sociedade : das comunidades primitivas às
sociedades medievais, RJ.,Livro Técnico.
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