"A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) marcou a entrada da química nos
campos de batalha. Em 1915, o cientista alemão Fritz Haber teve uma
idéia para obrigar as tropas inimigas a sair da proteção das trincheiras
e aceitar o combate a céu aberto: espalhou gás cloro num front perto da
cidade belga de Ypres. Foi uma devastação - 5 mil desprevenidos
soldados franceses foram mortos e outros 10 mil ficaram feridos. O cloro
pertence ao grupo dos gases sufocantes, que irritam e ressecam as vias
respiratórias. Para aliviar a irritação, o organismo segrega líquido nos
pulmões, provocando um edema. A vítima morre literalmente afogada.
Como
se não bastasse o cloro, a desenvolvida indústria química alemã
-especialmente a tristemente famosa IG Farben - redescobriu o gás
mostarda, inventado meio século antes na Inglaterra. Além de atacar o
revestimento das vias respiratórias provocando feridas e inchaço, esse
gás com cheiro de mostarda (daí o nome) provoca bolhas e queimaduras na
pele e cegueira temporária. Inalado em grande quantidade, mata. Os
franceses retrucaram como cianeto de hidrogênio e o ácido prússico,
chamados gases do sangue. Quando inaladas, as moléculas desses gases se
unem à hemoglobina do sangue, impedindo-a de se combinar com o oxigênio
para transportá-lo às células do corpo, causando a morte.
Ao
todo, as mortes provocadas por gases venenosos na Primeira Guerra
Mundial somaram perto de 100 mil; os feridos, em torno de 1,3 milhão. A
fama de vilão porém recaiu exclusivamente sobre Fritz Haber, o mentor do
ataque alemão a Ypres. Pouco lhe valeu ser contemplado com o Prêmio
Nobel de Química em 1918 - sob protesto dos cientistas - por ter
conseguido a síntese da amônia, inventando assim os fertilizantes
químicos.
Quando Hitler chegou ao poder na Alemanha em 1933, Haber, por
ser judeu, emigrou para a Inglaterra. Ao encontrá-lo em Londres, logo em
seguida, o físico inglês Ernest Rutherford , também Prêmio Nobel,
recusou-se a apertar-lhe a mão. O criador da guerra química morreu no
ano seguinte, de ataque cardíaco. Em 1925, a Liga das Nações, precursora
da ONU, havia proibido no Protocolo de Genebra o uso militar de gases
asfixiantes, tóxicos e outros, assim como o de agentes bacteriológicos."(Revista Superinteressante)
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