A História do Brasil possui temas que nem os estudantes e os próprios brasileiros desconhecem. Quem já ouviu falar que o Brasil também teve Campos de Concentração? Sim, nós tivemos e isso só chegou ao público pela pena do jornalista, escritor e pedagogo Camões Filho ao escrever o livro "O Canto do Vento".
"O Brasil manteve campos de
concentração durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), revelam
documentos oficiais que estavam lacrados pelo governo e que ajudam a
desvendar um período até aqui obscuro da história.
A partir de
1942, cerca de 3.000 pessoas de origem alemã, italiana e japonesa foram
mantidas em dez campos de concentração criados em sete Estados
brasileiros (PA, PE, RJ, MG, SP, SC e RS).
Sem nenhuma semelhança
com os campos nazistas, os espaços de confinamento brasileiros
permitiam que os prisioneiros saíssem para fazer compras na cidade,
receber visitas e até tocar em festas.
Um episódio marcante foi a
apreensão do navio alemão Windhuk, que, para fugir da marinha inglesa,
aportou em Santos. Os tripulantes alemães foram presos e levados para
campos de concentração (leia texto nesta página).
O assunto é
tema de uma tese de doutorado em história social na USP, defendida pela
historiadora Priscila Ferreira Perazzo em agosto passado, e do livro ''O
Canto do Vento'' (tradução de Windhuk), do jornalista Camões Filho.
Está ainda sendo investigado por vários outros pesquisadores da USP.
Segundo o livro de Camões Filho, depois do fim da guerra, 90% dos prisioneiros ficaram no país.
Esse
período da história brasileira jamais foi incluído nos livros didáticos
porque, até 1996, era considerado secreto pelo governo, que permitia
somente o acesso parcial aos dados. Os arquivos oficiais foram lacrados
com base em uma lei que proibia consultas ou pesquisas por 50 anos. Em
1988, o prazo caiu para 30 anos.
"Essa é uma história que está
para ser escrita e foi omitida por ser inoportuna. Esses arquivos
revelam os carrascos de uma fase desagradável da história política
brasileira", diz a professora da USP e coordenadora do projeto
Arquivo-Universidade, Maria Luiza Tucci Carneiro, especialista em
racismo e anti-semitismo.
A criação dessas áreas para
prisioneiros ocorreu a partir de agosto de 1942, época em que o Brasil
saiu da neutralidade em relação à guerra e se posicionou a favor dos
Aliados (EUA, Inglaterra e França). O bloco lutava contra os países do
Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O Brasil era governado por Getúlio
Vargas.
De acordo com Perazzo, autora da tese intitulada
"Prisioneiros de Guerra. Os Cidadãos do Eixo nos Campos de Concentração
Brasileiros", a perseguição aos imigrantes já existia alguns anos antes
da eclosão da guerra. A diferença é que, antes da adesão aos Aliados, os
imigrantes eram vistos como "cidadãos indesejados".
A partir de
1938, alemães, japoneses e italianos começaram a ser severamente
reprimidos no Brasil por representarem uma ameaça ao projeto
nacional-moderno do governo, já que tinham ideologias diferentes das
sugeridas no país.
A reclusão nos campos foi praticamente uma
precondição para o apoio do Brasil aos Aliados. A historiadora explica
que o tratamento dado aos imigrantes deixou de ser uma questão nacional
para projetar-se como um dos elementos de negociação no campo da
política internacional.
O Brasil teve sua recompensa depois da
guerra. Enquanto a Europa estava quase destruída, o país aproveitava um
dos períodos mais promissores no que diz respeito à geração de empregos,
provenientes da industrialização com o apoio do Aliados."(www1.folha.uol.com.br)
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