Alguns hábitos da cuiabania não tem como ignorar. É o caso do "senadinho", onde ainda é possível encontrar alguns senhores que sentam em cadeiras de balanço na porta de uma casa na Rua Cândido Mariano. O grupo é composto somente por homens e sobre o que eles conversam? Política é claro.
E já pensando num projeto que irei organizar em breve, aproveito para postar o que encontrei no Diário de Cuiabá. Qual o projeto? Surpresaaaaaa
"O “Senadinho cuiabano” atual se reúne diariamente ao lado da antiga residência oficial dos governadores, esquina da Rua Cândido Mariano com a Barão de Melgaço, centro de Cuiabá.
Nessa casa morava um personagem extraordinário de nossa sociedade local, o advogado Oriente Tenuta Filho, falecido recentemente, o nosso “Nenê” para os íntimos, incentivador desse bom costume nosso. Hoje, sua mulher Elza Maria e seus filhos, todos médicos, cultivam e incentivam tal costume.
Participam dele os heróis de ontem e de hoje. Aqueles que escreveram páginas e mais páginas de conquistas sociais e políticas nesta capital guerreira.
Tal costume é antigo em todas as vilas e cidades interioranas do mundo onde os moradores sempre mantiveram aquele saudoso hábito daquelas rodas de gente da gente nas calçadas de nossas saudades, após o banho e o jantar, para “colocar a conversa em dia”, saber das últimas novidades e comentar os assuntos da cidade.
Era o Grande Jornal Falado em que todos participavam. Já mais tarde da noite, lá pelas sete e meia, a grande roda se dividia em blocos dos assuntos políticos, bloco das discussões, bloco das fofocas, dos homens, das mulheres e até a troca de informações técnicas como os segredos do verdadeiro bolo de arroz e do difícil pequi cuiabanos onde apenas as mulheres participavam. Naquela hora, a “roda” se estendia até o meio da rua, subdividida em blocos de assuntos diferentes, até com cadeiras emprestadas dos vizinhos ali presentes.
E havia as crianças que nunca se sentavam. E dos jovens que trocavam olhares entre todo mundo, frestas das portas, olhares nas janelas das meninas cuiabanas, consideradas as mais lindas garotas do Brasil inteiro, empatando apenas com as mais ousadas cariocas, estas também sempre homenageadas pela juventude masculina daqui.
Para mim, que conhecia Cuiabá inteira, entenda-se Várzea Grande, Livramento, Chapada, Rosário Oeste, Santo Antônio, Barão de Melgaço, tudo era Cuiabá, a Grande Cuiabá. O primeiro “Senadinho” que vi e conheci foi ali na casa de “Bugre”, apelido carinhoso de Olyntho Neves, dono do Bar Moderno que todo mundo conhecia por “Bar do Bugre”, sobre o qual seu ilustre filho Gabriel, primeiro reitor de nossa UFMT, sempre fala em seus artigos e em sua página na Internet com ousada e pertinente razão absoluta de carinho.
Sempre estiveram presentes, papeando com “Bugre”, seu vizinho, historiador Rubens de Mendonça, senador Filinto Müller, governadores Fernando Corrêa da Costa e João Ponce, o médico e piloto Carlos Eduardo Epaminondas e seu ilustre irmão Paulo, de tantas e maravilhosas histórias, e o engenheiro Luiz e seu irmão Édio Lotufo, uma das maiores expressões médicas desta capital; enfim, grandes nomes da sociedade séria daqui, políticos de vanguarda nacional, profissionais renomados...
A cada minuto, a roda na calçada aumentava mais e mais. Era gente de todos os lados que chegava sem parar, secretários de Estado e os habitantes do planeta “residência oficial dos governadores”...
Citando, também, os filhos de d. Irene, Gabriel, Pedrinho, Inon e Olyntinho e as meninas/crianças. E, até eu que fui obrigado a me acostumar cedo demais, naquela década de cinquenta, a vestir calças compridas por causa da minha profissão tão precoce de radialista e jornalista em O Estado de Mato Grosso, do Lenine Povoas, e da Rádio A Voz d’Oeste, do Brunini, para participar de tão memorável “Senadinho”, rodeado de alguns parentes e de tão ilustres personagens da verdadeira história cuiabana (por causa de minha mãe cuiabana de troncos familiares Corrêa da Costa, Müller, Barbosa, Pacheco)...
Os mais sapecas eram Rubens de Mendonça, Carlos Eduardo Epaminondas e Filinto Müller, nessa ordem. Havia uma janela mágica por ali que fazia com que os mais jovens dali se perdessem nos assuntos de gente grande. E quem mais vivia me sondando eram o Rubens, Filinto e Carlos Eduardo. O excelente médico Carlos Eduardo, de vez em quando, me beliscava ordenando-me, como bom comandante de uma aeronave de sonhos, que eu prestasse mais atenção aos assuntos do senador e parasse de ficar olhando aquelas janelas...
Foi ali, na casa de “Bugre”, o primeiro “Senadinho” de nossa gente e de nossos valores."(PAULO ZAVIASKY é jornalista )
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