Talvez pelo fato de ter sido escrito por uma negra é que somente em 2017 fora traduzido para o português, mas nunca é tarde para conhecer um livro maravilhoso. Com mais de meio milhão de cópias vendidas no mundo merece ser apreciado por nossos vorazes leitores.
“Comecei a escrever sobre poder porque era algo que eu tinha muito pouco”. É esta frase, simples e honesta, que abre o o romance Kindred – Laços de Sangue, de Octavia Estelle Butler. Conhecida como “a grande dama da ficção científica", Butler foi a primeira autora mulher e negra a ganhar, ainda nos anos 1970, notoriedade no gênero que até hoje é predominantemente masculino – e branco.
Em outubro de 2017, Kindred, seu quarto livro, ganhou versão brasileira pela Editora Morro Branco e se torna, depois de 40 anos da sua publicação, a primeira obra da autora a chegar ao país.
Publicado originalmente nos Estados Unidos em 1979, Kindred conta a história de Dana, uma jovem escritora negra que vive na Califórnia, nos anos 1970, e se vê súbita e inexplicavelmente transportada para uma fazenda escravista no sul dos Estados Unidos, pouco antes da Guerra de Secessão.
Horrorizada, percebe que está na casa dos seus antepassados: Alice, uma escrava, e Rufus, o dono das terras. Dana entende, também, que sua missão ali é não só sobreviver em uma sociedade que a rejeita, como também garantir que seus bisavós, os filhos de Alice e Rufus, nasçam, para que ela mesma possa existir, no futuro.
Filha de um engraxate e de uma empregada doméstica, Butler nasceu em 1947, no auge da segregação racial nos Estados Unidos e, apesar de viver em uma comunidade “racialmente integrada”, em Pasadena, Califórnia, sempre testemunhou sua mãe ser tratada de forma desumana nas casas em que trabalhou. Mais velha, formou-se na Universidade da Califórnia e descobriu que as relações violentas e ambíguas entre negros e brancos, que ela experimentara durante a vida toda, tinham origens muito antigas, datando da escravidão.
Butler publicaria, ao longo da vida, 14 livros de ficção, venceria os prêmios Nebula, Hugo e MacArthur Fellowship (alguns dos mais importantes da ficção científica) e entraria, pouco antes de morrer, em 2006, no Hall Internacional da Fama de Escritores Negros. Além disso, a Pasadena City College, onde Butler também estudou, criaria uma bolsa de estudos com seu nome. O próprio Kindred vendeu meio milhão de cópias no mundo inteiro, algo incomum para uma autora negra nos anos 1970.
Ela morreu em 2006, durante um bloqueio criativo que a atacara depois de anos trabalhando na série de romances Parable, que também abordava racismo. Segundo a autora, mergulhar no universo da série a “deprimiu profundamente”(formigaeletrica.com.br)
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