terça-feira, 31 de março de 2020

O Grande Irmão - Livro de Carlos Fico

Hoje completa 56 anos do golpe militar de 1964. Na madrugada do dia 31 de março de 1964, um golpe militar foi deflagrado contra o governo legalmente constituído de João Goulart.
Antes mesmo de Jango deixar o país, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, já havia declarado vaga a presidência da República. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu interinamente a presidência, conforme previsto na Constituição de 1946, e como já ocorrera em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros. O poder real, no entanto, encontrava-se em mãos militares. 


No dia 2 de abril, foi organizado o autodenominado "Comando Supremo da Revolução", composto por três membros: o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo (Aeronáutica), o vice-almirante Augusto Rademaker (Marinha) e o general Artur da Costa e Silva, representante do Exército e homem-forte do triunvirato. Essa junta permaneceria no poder por duas semanas.

 Apenas os militares tem motivos para comemorar essa data infame e para saber como foi planejado esse golpe o professor de História do Brasil Carlos Fico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lançou o livro onde é possível entender como se deu a participação dos Estados Unidos e da própria sociedade brasileira. O livro é de 2008, entretanto, bastante atual.
 
"Baseado principalmente em documentos revelados recentemente dos arquivos de órgão norte-americanos, Carlos Fico faz um painel muito preciso do período compreendido entre os anos imediatamente anteriores ao golpe de estado e o final do Governo Médici – onde termina o período dos documentos liberados.

Grosso modo, o livro é dividido em quatro partes:
 

1) A preparação do golpe. Neste trecho desnuda-se o papel americano na deposição de Jango e o imediato reconhecimento – que o próprio Presidente Johnson considerou precoce – do novo regime.
Revelam-se detalhes da “Operação Brother Sam”, que consistia em apoio militar e logístico aos amotinados em caso de resistência legalista. Também desnudam-se uma série de programas assistenciais americanos em solo brasileiro.
 

2) Castello Branco e as “relações carnais”. Período em que o governo brasileiro alinhou-se totalmente, com requintes de subserviência ao governo norte-americano. Os principais representantes desta postura eram o desgraçado do economista Roberto Campos (que a esta hora deve estar passando um sufoco tremendo no fundo do fundo do inferno) e o embaixador nos EUA Juracy Magalhães.
Destrincha também o uso dos programas de empréstimo como fator de pressão sobre o governo brasileiro e mostra o acesso irrestrito que o pessoal da Embaixada americana tinha com o presidente Castello Branco e os mais altos círculos de poder.
 

3) Costa e Silva: período de relativo distanciamento e de muita preocupação com o progressivo endurecimento do regime militar. O governo americano ficou bastante preocupado em sua imagem ao apoiar uma ditadura, então trazia suporte mas não da forma escancarada do governo anterior.
Outro momento retratado são as constantes lutas de poder dentro do próprio Departamento de Estado norte-americano e o problema criado pelo sequestro do embaixador Charles Elbrick.
 

4) Garrastazu Médici. Apaziguamento tendo em vista a crescente preocupação e desejo do governo brasileiro em possuir um papel mais preponderante na América do Sul.
O livro mostra manobras ocorridas durante a visita de Médici aos EUA no sentido de mostrar aos brasileiros que seu país era importante aos EUA – ao mesmo tempo, a realidade era de que o Brasil não tinha a menor importância na geopolítica americana, preocupada que estava com o Vietnã.  Outrossim, diminui a preocupação com a tortura e a ditadura – o “problema” era o Chile de Allende."

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