sábado, 16 de maio de 2020

Tese aponta Origem Indígena em Várzea Grande/MT

Ontem, o município de Várzea Grande completou 153 anos de acordo com a História oficial, entretanto uma pesquisa da mestre em História e doutora em Antropologia Verone Cristina da Silva pode mudar tudo que aprendemos e ensinamos até hoje. Tanto os documentos quanto a História oral são importantes em nosso ofício, difícil vai ser convencer os habitantes do município dessa nova versão da História do município.
 


"A cidade foi fundada em 1867, por ocasião da construção do Acampamento Magalhães, na margem direita do rio Cuiabá, feito pelo presidente da província de Mato Grosso, José Vieira Couto de Magalhães, para manter paraguaios presos durante a Guerra da Tríplice Aliança. Mas há outra história que aponta outra possível data de nascimento para a cidade: o ano de 1832. A data marca a concessão de terras pelo governo imperial aos índios guanás, população que teve uma importância social, política e econômica para ir povoando e criando um aldeamento no território onde hoje se localiza a cidade industrial. Se a lógica fosse esta, a cidade seria ainda mais antiga e faria 188 anos em 15 de maio.

A pesquisadora Verone Cristina da Silva, mestre em história e doutora em Antropologia, descobriu a importância dos guanás para a cidade quando realizava estudos sobre populações ribeirinhas do rio Cuiabá. Em 1999, no bairro Alameda em Várzea Grande, ela conheceu Boamorte Manoel de Campos, um velho pescador de 75 anos que se dizia guaná.   

Verone mostrou em sua dissertação de mestrado que os guanás saíram do município de Albuquerque, onde hoje é Mato Grosso do Sul, da missão de Nossa Senhora da Misericórdia. Migraram por ocasião da nomeação do missionário capuchinho José Maria de Macerata, que virou chefe da Diretoria Geral dos Índios em Cuiabá. Macerata era chefe da missão em Albuquerque e sua chegada provocou a vinda para a região que trouxe cerca 400 guanás.  
“Os guanás tem uma importância muito grande para a constituição e a formação do que hoje é a chamada Várzea Grande”, conta Verone. Ela admite que a história dos guanás foi invisibilizada pela história oficial, que dá mais destaque ao acampamento Couto Magalhões. O historiador Suelme Fernandes, que estudou o acampamento, concorda com a pesquisadora.

“O acampamento não estava em Várzea Grande, falaram isso para promover Couto Magalhães, a logística começou com o aldeamento indígena dos guanás, eu acho muito mais razoável isso”, critica o historiador.


Em 186, quando a "bexiga" - hoje conhecida como varíola - dizimou um terço da população cuiabana, muitos fizeram questão que a doença matasse também os guanás. "Constou-nos que algumas pessoas mandaram atirar roupas e colchões empesteados de bexiga, em diferentes lugares, onde os índios pudessem apanhá-los, afim de contaminar a esses infelizes o mal que assolava as povoações", diz trecho do relato de Joaquim Moutinho escrito naquele ano.

A pesquisadora explica que, com a aprovação da lei de terras em 1850, o território guaná foi sendo tomado principalmente por comerciantes do porto em Cuiabá. A historiadora encontrou uma série de documentos que mostram como a propriedade destas terras pelos índios foi contestada e que, ao longo dos anos, a memória indígena foi desaparecendo da história oficial."(jornalagazeta)

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