sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Em Cuiabá a Pobreza tem a Cor Negra

Para diminuir vulnerabilidade social, Cufa atende 50 favelas de Cuiabá |  MUVUCA POPULAR
                                 
Claudia N. Sousa - Profª Especialista em História do Brasil

E a sexta-feira "Dia da Consciência Negra" amanheceu nublada e até com um ventinho fresco, mesmo com uma temperatura que está em elevação e de novo com previsão de chuva forte.

Como em todos os anos, o Dia da Consciência Negra é para reflexões sobre a situação dos negros em nossa sociedade e não apenas um feriado como todos imaginam. Seja em Cuiabá ou em qualquer estado do Brasil, a pobreza infelizmente tem a cor negra.

E num Dia dedicado a refletir sobre nosso passado escravista, seria muito bom que todos refletissem também sobre a " democracia racial", que muitos dizem que existe no país, mas que todos sabemos que o brasileiro é extremamente racista e preconceituoso, entretanto, faz questão de negar.!

Em nossa sociedade, os negros sempre foram considerados "marginais". Durante os mais de trezentos anos de escravidão ou durante os mais de cento e vinte anos de libertação.

Em nenhum momento foram vistos como homens, mas sim como objetos ou animais de carga. "Nem cidadãos, nem estrangeiros: os africanos libertos".

Libertados do cativeiro em que viviam não receberam do Estado o auxílio devido, e logo passaram à condição de marginais. Aliás, condição esta que nunca deixou de acompanhá-los.

À margem da sociedade, viram o progresso chegar e muitos tentaram igualar-se aos brancos. Quem conseguiu socialmente virou o "mulato" ou "moreno". Aqueles que permaneceram na periferia continuaram sendo negros e marginais.

Os princípios mais importantes da ideologia da "democracia racial" são a ausência de preconceitos e discriminação racial no Brasil e consequentemente, a existência de oportunidades econômicas e sociais iguais para brancos e negros.

Em Cuiabá, o mesmo desenvolvimento que trouxe o migrante de outras regiões, jogou a população mais pobre nas "favelas", que cada dia que passa aumentam mais.

Uma visita aos bairros periféricos e iremos constatar que os moradores em sua maioria são negros.Negros que a sociedade branca insiste em não ver. Negros pobres, que os brancos não permitem ascenderem econômica e socialmente.

Quando falo "marginais", refiro-me às pessoa que vivem nas periferias, às margens da cidade. E estas pessoas são aquelas que causam "problemas" à sociedade branca e progressiva.

Senão vejamos: onde está localizado o hospital Adauto Botelho, hoje denominado Centro Integrado de Assistência Psicossocial? O Asilo de Idosos? A Cadeia Pública? O Complexo Pomeri para adolescentes? Todas estas Instituições, encontram-se na periferia da cidade. São os marginais.! A sociedade, guarda-os dela própria, protege-os de sua própria incapacidade de gerir vida.!

Incapacidade de aceitar, que os idosos também são gente, são humanos! Que os chamados "loucos" merecem carinho, respeito e tratamento especial. Que os ladrões, bandidos, assassinos muitas vezes tornaram-se a escória da sociedade, porque a mesma não lhes deu chance de crescerem como homens decentes! Que alguns menores foram abandonados por seus pais, porque lhes faltavam meios para educá-los de acordo com as regras da sociedade branca! Que nas periferias sem saneamento básico, sem escolas com ensino de qualidade e sem emprego, os negros são relegados a segundo plano pelo Estado e pela própria sociedade.

Na Revista Veja de 19 de novembro de 2017 lê-se num parágrafo " em uma sociedade minimamente democrática, todos devem ser iguais. Entretanto, tratar os desiguais como se fosse iguais é perpetuar as desigualdades. Os censos mostram que os "não brancos", especialmente os negros, têm renda menor, menores oportunidades de emprego e acesso seletivo às posições mais importantes da sociedade. Há os que furam a barreira e chegam a ser governadores, prefeitos, artistas de renome, futebolistas ou empresários."




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