"O livro que inspirou o filme "Uma noite de 12 anos". Prêmio Bartolomé Hidalgo na categoria Testemunhos.
Pepe Mujica, Mauricio Rosencof e Eleutério Fernández Huidobro não eram prisioneiros: eles eram reféns da ditadura cívico militar que tomou o poder no Uruguai em 1973. Se as famílias fizessem denúncias no exterior, se os companheiros Tupamaros atentassem contra os militares, se um resgate fosse tentado, os três reféns seriam executados.
A comida era pouca, às vezes nenhuma. O frio intenso. Quando queriam ir ao banheiro, eram amarrados, encapuzados, e habitualmente espancados no trajeto. De tão precárias as condições, apegaram-se ao capuz, o mesmo que os vendava, e o utilizavam de travesseiro, de coberta, mantinham-no limpo, da forma como era possível em condições tão insalubres.
Comunicar-se era definitivamente proibido. Ainda assim, batendo os dedos contra a parede, num código morse improvisado, conversavam, lutavam, militavam, jogavam xadrez.
Finalmente libertados, em 1985, Mauricio Rosencof, o Russo, e Eleutério Fernández Huidobro, o Nhato, colocam-se diante de um gravador para narrar todo o vivido naqueles 12 anos. Pepe Mujica, futuro presidente do Uruguai, editou o livro. Eduardo Galeano escreveu o prefácio. Assim publica-se a primeira edição de “Memórias do Calabouço”, livro fundamental para se compreender as ditaduras sul-americanas."
Atualmente, é fundamental ler, estudar e se informar sobre as ditaduras vivenciadas pela América Latina nos anos 1970. Até porque quem é desinformado sobre História, vive repetindo que "os militares livrarem a América Latina do Comunismo". Por aí já se vê o quão ignorantes eles são, pois o Comunismo não existe em lugar nenhum do mundo, como pode ser uma ameaça?
Em pleno séc. XXI, é muito triste deparar com tanta gente ignorante, analfabeta e desinformada quando a 4ª Revolução Industrial, iniciou nos anos 1990 do séc. XX, chegou com os celulares, notebooks e outros inventos que mudaram o cotidiano de uma grande parte do Mundo.
"Em 1975, a elaboração da Operação Condor visava criar uma aliança político-militar entre os diferentes regimes ditatoriais que vigoravam na América do Sul, principalmente no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Bolívia, segundo explica matéria da LARED21.
Com isso, no auge da Guerra Fria, a Operação ajudaria a suprimir setores políticos de esquerda, que eram vistos como uma ameaça para os americanos. Além dos soviéticos, obviamente, os cubanos também eram tratados com este potencial, visto a sua proximidade aos países da América do Sul.
Mauricio Rosencof, que foi guerrilheiro ao lado de José Alberto Mujica e Eleuterio Fernández Huidobro durante a ditadura militar uruguaia conversou com o site Aventuras na História sobre sua saga durante a ditadura.
Durante 4.323 dias, Rosencof, que agora lançou a esplendida obra 'Memórias do Calabouço', pela editora Rua do Sabão, conta como foi torturado diante de um terror que parecia não ter fim.
“O período mais sombrio que vivi, mas que sobrevivi, foi quando caçaram dirigentes do Movimento Tupamaro, onde o governo, por qualquer motivo, nos condenava”, explica Rosencof em entrevista exclusiva ao site.
Em um cenário ainda mais desumano, o ex-guerrilheiro explica que era oferecida comida misturada com bitucas de cigarro e até mesmo misturadas com terra. E em outros momentos marcados pela fome, chegou a comer larvas, moscas e pedaços de papeis. “Não tínhamos o que comer, um prato para se alimentar, erámos agredidos, não vimos nenhuma outra pessoa por 12 anos”, explicou ele.
“Estivemos presos em calabouços de um metro e oitenta por oitenta centímetros, embaixo da terra, onde não recebíamos água e tivemos que aprender a reciclar nossa própria urina”, relembra Mauricio. “Quando se vive uma luta política, você pode viver todas as alternativas possíveis: a vida, a morte, a prisão, tudo que se pode pensar”.
Ameaça comunista?
Em determinado momento, questionamos como ele enxerga o que as pessoas chamavam no passado (e ainda no presente) de 'ameaça comunista'. Para ele, que viveu na pele a dor da ditadura, trata-se de uma expressão usada com o objetivo de justificar o que fora feito na América Latina.
“Isso é uma expressão que se utiliza para justificar tudo o que fizeram por aqui. Não encontro sentido para isso. Eu encontro sim sentido em todos os movimentos que aconteceram na América, inclusive no Brasil”, diz Rosencof.
“Como é a essência do livro ‘O Cavaleiro da Esperança’, de Jorge Amado, que é um chamado contra a ditadura, contra quem está matando os indígenas e incendiando o território do Amazonas para se apropriar da terra, debilitando um pulmão de oxigênio do mundo e o substituindo a favor da aniquilação dos indígenas, que se mantiveram ao longo de todo esse continente amazônico”, completa."(aventuranahistoria)
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