Eu nunca tive medo do monstro no armário, pois na minha casa nós não tínhamos armário ou sequer guarda-roupa; nossas roupas ficavam dentro de caixas de papelão. Mas, muitas crianças de posses de nossa época tinha esse medo terrível e quando foi lançada a animação Monstros S/A, nos divertimos muito. Afinal, éramos adultos e se pudesse minha mãe matava todos os possíveis monstros que surgissem em nosso quarto; aliás foi quando ficamos adultos que pudemos ter um quarto separado. Coisa de família grande e pobre... Hoje, eu tenho um clouset e por vias das dúvidas prefiro deixar fechado quando vou dormir.
''Lançado em novembro de 2001 nos Estados Unidos e no Brasil, “Monstros S.A.” parte do mesmo princípio de “Shrek”: os personagens precisam causar medo conscientemente para garantir a própria sobrevivência, beneficiados pela aparência “monstruosa”. Se no longa da DreamWorks o que estava em jogo era o pântano, no da Disney / Pixar é toda a cidade de Monstrópolis, abastecida pela energia gerada pelos gritos das crianças assustadas pelos funcionários da fábrica que dá nome à animação, e constantemente preocupada com a possibilidade de alguma criança escapar pelas portas da usina e contaminar a todos.
Mantendo o padrão de qualidade instituído pela Disney, “Monstros S.A.” segue fórmula que o insere no contexto mais tradicional do cinema de animação no que tange à construção de sua história, baseada na eterna luta do bem contra o mal. Além disso, não há a ousadia de “Shrek” em dialogar diretamente com a fatia adulta do público. Porém, o longa consegue conquistar esta parcela importante da plateia pelo tom cômico que domina a narrativa, sobretudo quando os assustadores, Sullivan ‘Sully’ (voz de John Goodman) e Mike (voz de Billy Crystal), entram em pânico ao conhecer Boo (voz de Mary Gibbs), que invadiu a Monstros S.A. após a tentativa de trapaça do vilão Randall (voz de Steve Buscemi).
Dirigido por Pete Docter, David Silverman e Lee Unkrich, “Monstros S.A.” aborda um tema interessante e ainda atual: a perda da inocência nas novas gerações de crianças. Afinal, brincadeiras de outrora e, até mesmo, cantigas de ninar não têm o mesmo efeito sobre os baixinhos, cada vez mais expostos, por exemplo, à tecnologia dos tablets e videogames de ponta e à violência cotidiana, seja por meio da realidade na qual estão inseridos ou pelo noticiário e produções televisivas e cinematográficas.
Isto pode ser resumido no comercial da fábrica, que diz: “A era da inocência está acabando. Crianças humanas são difíceis de assustar”.
De certa forma, esta constatação do comercial da Monstros S.A. se torna o fio condutor da trama à medida que a relação entre Sullivan e Boo se fortalece, mudando a visão do assustador recordista e invejado por Randall, sempre em segundo lugar apesar dos esforços. Com isso, o longa explora o medo sob todos os aspectos, discutindo se é válido ou não causar uma situação que poderá ocasionar traumas à criança ao invés de obter resultados satisfatórios por meio da felicidade expressada por gargalhadas genuínas. No caso do filme, mais poderosas em termos de energia do que os gritos de pavor.
Vencedor do Oscar de melhor canção original (“If I Didn’t Have You”) para Randy Newman, “Monstros S.A.” também originou diversos títulos ao longo dos anos, entre eles, o prelúdio “Universidade Monstros” (Monsters University – 2013) e a série “Monstros no Trabalho” (Monsters at Work – 2021), que é ambientada no dia seguinte à descoberta de Mike e Sully sobre o poder do riso.''
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