O avanço do sarampo no Brasil tem preocupado toda a sociedade, pois essa doença havia sido erradicada e agora retornou e já chegou em dez estados. A vacina é a melhor defesa contra a doença e alguns desinformados fazem questão de não tomá-la. O resultado dessa ignorância global são as mortes de bebês a adultos, aqui, na África, Europa e Estados Unidos.
"Estaria o direito individual acima do coletivo?", pergunta Massimiliano Fedriga, político que virou chacota global. A internação dele em março, por cinco dias, para tratar uma catapora, foi notícia no mundo todo.
Governador
de Fruili-Venezia Giulia, uma das regiões do norte da Itália, e membro
da Liga, partido da extrema direita e hoje a maior força política do
país, Fedriga é um dos expoentes do movimento que prega a liberdade da
vacinação. Ele, contudo, acabou indo parar no hospital vítima da doença
cuja melhor maneira de prevenção é exatamente a vacina.
“O mais
espantoso, e que não saiu em nenhum jornal, é que recebi durante o
período em que fiquei no hospital várias mensagens desejando a minha
morte”, conta. “Minha questão é a liberdade de escolha — a vacina não
pode ser imposta.”
Filiado
a um partido acostumado a inflamar o debate em temas como a defesa da
família tradicional e das políticas contra a imigração, o político de 38
anos, o mais jovem governador da Itália, disse ter se espantado com o
ambiente “tóxico e extremista” sobre a questão, agora classificada por
ele — já recuperado e de volta às funções políticas — como uma “guerra
típica das torcidas organizadas”. Ele reclama ter sido vítima do que é o
principal motor contra as vacinas: a desinformação.
A resistência à vacinação foi listada pela Organização Mundial da
Saúde como uma das dez maiores ameaças à saúde global neste 2019.
Segundo números preliminares do órgão, os surtos de sarampo, doença
altamente contagiosa, aumentaram 300% no mundo nos primeiros três meses
deste ano em comparação ao mesmo período de 2018. O crescimento foi
maior na África (700%) e na Europa (300%).
Relatório do Unicef,
órgão da ONU para a infância, cravou que 98% dos países reportaram
aumento nos casos de sarampo, doença que ressurgiu em locais que até
pouco tempo atrás estavam perto de erradicá-la. Os três piores do
ranking (que compara 2017 com 2018), respectivamente, foram Ucrânia,
Filipinas e Brasil. A organização alertou: “A verdadeira infecção é a
desinformação”.
Como acontece com os terraplanistas, os descrentes
do aquecimento global e os que acreditam que o nazismo era de esquerda,
o principal canal difusor das (des)informações é a internet,
especialmente redes sociais como o Facebook. Pressionada, a plataforma
criada por Mark Zuckerberg desativou recentemente anúncios com conteúdos
contra a imunização nos Estados Unidos, onde estima-se que esse tipo de
publicidade atingia quase 1 milhão de pessoas.
Na Europa, o
aumento dos casos de sarampo — o maior índice em 20 anos — foi
relacionado à expansão da agenda populista de direita e
anti-establishment, que tem a causa como bandeira política. O cerne da
crítica é a imposição das vacinas, método que alguns políticos chamam de
stalinista.
Mas, como em todo movimento, nele há subdivisões e divergências: uns
pregam a liberdade vacinal e outros rejeitam todo e qualquer tipo de
vacina. E não é uma pauta somente da direita populista em ascensão. Há
entre os adeptos muitos naturalistas que sempre votaram na esquerda e
que veem com desconfiança o sistema de vacinação “massificado”, como
dizem. Eles também replicam falsificações sobre uma suposta conspiração
global entre governos e a indústria farmacêutica.
Dos 83 mil casos
de sarampo na Europa em 2018, 53 mil foram registrados na Ucrânia, mas
os índices foram alarmantes também em países como Sérvia e Grécia. O
número de descrentes aumentou ainda na França e Alemanha. Diante desse
cenário, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) tem
dispensado tempo e recursos para enfrentar a “hesitação vacinal”. O
órgão lembra que a vacina é o principal meio de prevenção primária de
doenças e uma das medidas de saúde pública com melhor relação
custo-eficácia. A imunização ainda é a melhor defesa contra doenças
contagiosas graves que podem ser fatais."(revistagalileu)
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