No último dia 3 de dezembro, o Liceu Cuiabano completou 133 anos e desde que estou lá, 2000, sempre comemoramos sua importância para Cuiabá e Mato Grosso.
Eu não me lembro de haver comemoração durante os anos em que fui aluna. Nos anos de 1973 a 1977 eu cursei da 5ª a 8ª série e como mandava a tradição fui matriculada na Escola Técnica, IFMT, assim que terminei o ano lá. E assim como ainda hoje, o Estadual era bastante disputado pelas famílias cuiabana.
Naquela época as férias de julho durava um mês e o ano letivo terminava em novembro; assim ficávamos de dezembro a fevereiro de férias. Até hoje tudo que aprendi no antigo primário ainda guardo na memória.
O diretor do Colégio Estadual, esse era o nome do Liceu, era o profº Rafael Rueda; um homem que metia medo na criançada. Mais brava que ele era a inspetora Dona Benedita; uma senhora negra que falava baixo e tinha um olhar penetrante.
Nosso uniforme era blusa branca, com um bolso onde aparecia o nome da escola, saia azul com duas pregas na frente e duas atrás e sapato colegial preto com meias brancas. Eu e minhas irmãs só tinhamos um uniforme e a mãe olhava toda vez que voltávamos, pois a única sujeira permitida era na gola da blusa.
Nós não tinhamos todos os livros como nossos alunos possuem hoje, apenas o de francês. As professoras, a maioria era mulher, passavam o "ponto" no quadro negro e nós tinhamos que decorar para as provas.
Apenas na 7ª e 8ª série é que nossa mãe comprou os livros de português, história e geografia. A mãe tinha que costurar e ganhar um bom dinheiro para comprá-los, uma vez que custava muito caro. E tinha os materiais da aula de educação artistica; e os meninos faziam bordado e crochê sem reclamar.
A caderneta de presença era obrigatória : na entrada a inspetora carimbava a presença e na saída também.E não era permitido entrar sem ela na escola. No último ano o bom aluno recebia um certificado de bom comportamento; eu ainda tenho o meu.
Eu nunca fui na diretoria, isso era para crianças mal-educadas e desordeiras; os briguentos eram expulsos e a suspensão de quinze dias. Nos corredores limpos e encerrados, a gente tinha que andar de um jeito que não encostasse nos colegas.
No recreio a gente ficava no pátio e o lanche era levado de casa; não me lembro de ter merenda. As crianças ricas compravam no Rogério, que já estava lá...
Em sala de aula, o silêncio era absoluto e ninguém dormia ou faltava com respeito. Todos podíamos ir beber água ou no banheiro, mas sempre um de cada vez. E havia o medo da "loura" do banheiro ou da "maria algodão", afinal não existe escola sem seus fantasmas.
Eu e minha irmã Cleide Néli fomos colegas até a 7ª série, quando eu sofri duas operações e fiquei reprovada. Nós tinhamos muitos colegas e alguns eram muito queridos, inclusive Délis Ortiz cuja casa nós frequentávamos sempre que ela nos convidava.
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