"Encontrei Sun Juntao, 16 anos, às 7h30 da manhã perto do ponto de
ônibus onde desembarcava, em uma das tantas largas e movimentadas
avenidas de Xangai, a maior metrópole chinesa.
(...) O extraordinário na cena era o fato de ser domingo e Juntao estar indo
para uma escola particular, onde receberia aulas de reforço. Mais tarde
lá estava ele, com mais vinte alunos sentados em duas fileiras de mesas
retangulares, separadas por um corredor. A sala não tinha
ar-condicionado, monitor de televisão, microfone ou outro aparato
tecnológico: só mesas, cadeiras e uma lousa.
O professor resolveu problemas de geometria por quase duas horas, sem
intervalo, sem fazer muitas perguntas aos alunos nem esboçar algum sinal
de senso de humor ou apelar para a espetacularização das aulas dos
cursinhos brasileiros. Ninguém reclamou, nem se mexeu muito, nem saiu
para ir ao banheiro. Depois daquela aula, um intervalo de dez minutos e
mais duas horas de aula de química.
Ele acorda diariamente às 6 da manhã. Enfrenta um trajeto de quase uma
hora de ônibus para chegar a sua escola. Entre 7h10 e 8 horas, lê com
seus colegas livros didáticos da matéria que está estudando, em sala de
aula, sem professor. Às 8 começam as aulas. Perto do meio-dia há uma
pausa de uma hora e quinze minutos para o almoço, servido no refeitório
da escola. À tarde, mais quatro períodos de aula.
Às 5 ele vai para
casa. Chega por volta das 18h30. Durante uma hora, descansa, toma banho e
janta. Aí faz o dever de casa por, normalmente, três horas diárias. Às
22h30 vai dormir, e o ciclo recomeça no dia seguinte.
Na China, só os níveis compulsórios de ensino — do primeiro ao nono ano —
são gratuitos. Os três anos de ensino médio são pagos, até nas escolas
públicas. Mesmo nos níveis gratuitos, os pais pagam o uniforme, o
transporte e a alimentação. O estado dá apenas os livros."(Revista Veja - Gustavo Ioschpe)
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