"Louise Brown, a primeira bebé-proveta do mundo, que este sábado
completa 37 anos, reconhece que não foi fácil crescer debaixo dos
holofotes mas acredita que valeu a pena. Aos casais que precisam da
ciência para engravidar, aconselha: “Nunca desistam”.
Numa
entrevista exclusiva à agência Lusa, a propósito do lançamento do seu
livro “Louise Brown: A minha vida como o primeiro bebé-proveta do
mundo”, que este sábado será lançado no Reino Unido, dia do seu
aniversário, a primeira criança concebida através da Fertilização In
Vitro (FIV) diz sentir-se uma pessoa “normal”, mas com uma infância
extraordinária, a qual atribui à forma inovadora como veio ao mundo.
Louise
conta que quando tinha quatro anos os pais mostraram-lhe o filme do seu
nascimento: “Eles fizeram-no porque em breve eu ia para a escola e
receavam que as outras crianças mencionassem o assunto. E também porque
sabiam que a comunicação social iria tentar fotografar-me na escola e
queriam contar-me a razão deste interesse por mim”.
Os pais de
Louise - Leslie e John Brown - tentaram uma gravidez durante nove anos,
sem sucesso. Coube à equipa de Patrick Steptoe e Bob Edwards, este
último galardoado com o Nobel da Medicina em 2010, proporcionar-lhes um
filho através de um método então inovador e que tinham desenvolvido na
década anterior: a FIV, que consiste na junção dos óvulos com os
espermatozoides em laboratório, com posterior transferência dos embriões
para o útero.
“Os meus pais contaram-me que fui concebida de uma
forma diferente das outras pessoas. Não tenho a certeza de ter
percebido tudo na altura, mas tomei consciência de que era uma coisa
diferente e que eu tinha sido a primeira no mundo“, acrescenta.
Questionada
sobre o impacto deste espírito pioneiro na sua vida, Louise recorda:
“Houve momentos na minha vida mais jovem em que a constante atenção e
interesse da imprensa foram demasiados para a minha família. Para ser
honesta, era demasiado nova para me aperceber do que estava a
acontecer”.
Assim que nasceu, Louise foi sujeita a “todos os
tipos de exame” para avaliarem se era perfeitamente normal. “E eu era!”,
afirma. Desde então, as pessoas aceitaram que nascer In Vitro não faz
qualquer diferença para um ser humano”, adianta.
Ainda assim, diz
imaginar “o que aconteceria a todo o programa de FIV” se acaso tivesse
nascido com alguma anormalidade. “Certamente que seria atribuída à
Fertilização In Vitro”, refere.
Passado um tempo, e perante a
constante curiosidade sobre a filha, Leslie e John Brown decidiram
retirar Louise debaixo dos holofotes para que a “super-bebé” ou a
“criança-milagre”, como na altura a apelidavam, pudesse crescer sem
tanta atenção da parte da comunicação social.
“Eu acho que eles
conseguiram. Mais tarde, fui tomando muito mais consciência das coisas
positivas que o meu nascimento representou para o mundo”, diz.
Louise
realça agora alguns dos aspetos positivos que resultaram do seu
pioneirismo. “Adoro viajar e conhecer pessoas FIV - especialmente
pequenos bebés - e é muito frequente as pessoas abordarem-me e
agradecerem-me por ter sido a primeira”.
“Francamente, acho que
os verdadeiros pioneiros foram os meus pais e a equipa de Patrick
Steptoe e Bob Edwards. Eu sou apenas o resultado do seu trabalho
pioneiro. Agora que estes quatro pioneiros morreram, eu sinto que é
importante conservar a sua memória viva e esta é uma das razões para o
livro nesta altura da minha vida”, declara.
O que não deve ser
difícil, uma vez que a imprensa continua “fascinada” com a sua pessoa,
para o bem e para o mal. Louise conta que “umas pessoas ignorantes“
colocaram “coisas estranhas“ sobre si na internet. “Eu ignorei essas
coisas e segui com a minha vida normal“, frisa.
Uma das dúvidas
sobre estas crianças que mais tempo demorou a ser esclarecida foi em
relação à sua própria fertilidade e também nesta área a família Brown
deu um pioneiro contributo. Isto porque a irmã de Louise, que também
nasceu através de uma FIV, foi mãe naturalmente, transformando-se na
primeira pessoa nascida por este método a ter um bebé de forma
espontânea.
Desde o nascimento de Louise, mais outros cinco
milhões de crianças vieram ao mundo com a ajuda da ciência, nomeadamente
de técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) como a FIV.
Louise
já conheceu algumas destas crianças, sentindo com algumas delas muito
em comum. “É fantástico quando ouço algumas das histórias dos seus pais e
de como são felizes por terem conseguido um filho”.
E sobre a
coragem da mãe - que se submeteu a uma técnica ainda desconhecida na
altura - Louise sublinha que só o seu grande desejo em ter um filho fez
com que ela, “uma senhora tímida e reservada”, se expusesse ao mundo. De
certa forma, prossegue, “a minha mãe sentia que tinha de partilhar-me
com o mundo, pelo que submeteu-se a uma nova FIV, da qual nasceu a minha
irmã Natalie”.
“Para mim, a mãe era apenas a mãe, mas ela merece
ser recordada por todas as mulheres em todo o mundo pela forma como,
silenciosamente, mudou o mundo”.
E às mulheres que, como a sua
mãe, querem e não conseguem engravidar, Louise aconselha: “Nunca
desistam, pois não há nada como a alegria de ser mãe”. Louise Brown é
mãe de dois filhos, nascidos de forma espontânea."(Jornal Sol)
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