"Backstage – Como surgiu a ideia de criar o Rock in Rio?
Roberto Medina – Foi em 1984. Eu estava insatisfeito
com o meu trabalho na época, na área de comunicação e marketing, queria
fazer algo novo e diferente. A ditadura estava acabando e eu queria
mostrar a cara do Brasil para o mundo. Meu objetivo era fazer algo
ligado à juventude.
Desde o início o objetivo era fazer um evento tão grande?
Na verdade, não. Um dos motivos de o Rock in Rio ter se tornado um evento deste porte foram as dificuldades que eu enfrentei.
Você já conhecia o mercado musical?
Conhecia pouco. Mas não me assustava, porque acredito que grandes
quebras de paradigmas vêm sem conhecimento. Tudo foi surpresa para mim,
eu não sabia a posição que o Brasil estava em relação ao mundo. Trazer
para o país qualquer banda internacional, na época, custava mais do que o
dobro do que levá-la a qualquer outra parte do mundo. Não tínhamos a
estrutura lá de fora. Além disso, o ingresso custava pouco e conseguir
patrocinador para um evento musical era muito difícil. Tentei de todas
as formas, durante 70 dias, e não consegui nada.
Como estes problemas iniciais foram solucionados?
Cinco anos antes de ter a ideia do que seria o Rock in Rio, eu trouxe o
Frank Sinatra para fazer um show aqui no Rio e ele foi a minha
salvação. Pedi a ele que convocasse uma coletiva de imprensa para
divulgar o festival. E funcionou, a coletiva foi um sucesso. No dia
seguinte, diversos jornais nacionais e internacionais estavam divulgando
o Rock in Rio.
Depois de chamar a atenção da imprensa, qual foi o desafio seguinte?
Precisávamos atrair o público. Para a conta fechar, para termos lucro,
era preciso juntar mais de um milhão de pessoas. E eu acreditava que
isso era possível. Mas, como fazer isso com um evento totalmente novo e
nunca visto antes no Brasil? Foi aí que surgiu a ideia de fazer dias
temáticos, além de criar muitas atrações para que famílias inteiras
pudessem comparecem ao Rock in Rio. Criamos dias tematizados, o dia do
rock, do pop, do heavy metal, do jazz, do blues, para atrair o maior
número de pessoas possível. E conseguimos, foi um festival incrível, com
1,3 milhão de pessoas. Super improvisado, mas exatamente como eu havia
sonhado.
O que representou para você fazer o Rock in Rio 1?
Para mim, o Rock in Rio 1 foi um marco de estrutura de show e de música
no Brasil. Foi a consolidação de uma marca, que hoje ocupa uma posição
de destaque no mundo. O Rock in Rio hoje é 'top of mind' em várias
partes do mundo. Na Espanha, por exemplo, sua importância chega a ser
comparada à da Fórmula 1.
O que mudou da primeira edição para o Rock in Rio para a atual?
O primeiro já foi muito superior em relação ao que existia na época,
tanto no mercado americano quanto no europeu. Eu não vejo mudança clara,
o que aconteceu foi o acréscimo da tecnologia. Antes, não tínhamos fax,
e-mail, celular, o que facilita muito nosso trabalho hoje em dia. É
claro que as estruturas de áudio, iluminação, o palco, em geral,
sofreram melhorias, mas o modelo é o mesmo. O evento foi sendo
aprimorado. Agora, o Rock in Rio é um festival muito mais planejado, mas
a alma é a mesma de 1985.
Quais são as diferenças entre as edições internacionais e as nacionais?
A grande diferença é que aqui no Rio todos os dias estarão lotados e
não é simplesmente uma apresentação, é uma festa, as pessoas vão para se
divertir. É uma relação social. O público brasileiro não tem igual no
mundo. Ele dá mais feedback aos artistas e, por isso, eles gostam mais
de tocar aqui do que em qualquer lugar do mundo. Mas fazer o evento aqui
traz uma responsabilidade muito maior. Fico muito mais feliz em fazer o
Rock in Rio no Rio do que em qualquer outro lugar. O orgulho é muito
maior. Aqui, eu tento fazer mais, muito mais. E eu vou fazer melhor."(backstage.com.br)
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