A literatura brasileira é recheada de obras maravilhosas e poucos lhe dão o devido valor. Muitos dizem que comprar livros de papel na era da internet é bobagem, mas eu sou essencialmente tradicional e nada se compara ao cheirinho de um livro novo...
"Neste livro excelente, a escritora cearense
R. de Queiroz mostra-se mestra em, no mínimo, dois pontos. O primeiro é a
trama em si, o conjunto de fatos concebidos por ela que, juntos compõem
uma grande estoria.. Outro ponto é a forma de contar essa estoria: um
retrato irretocável da vida rural no Nordeste.
O livro conta a vida de
Maria Moura, órfã que, ainda jovem, mete-se em brigas com seus primos,
por uma questão de herança de terra. Cercada pelos parentes, que
pretendiam seqüestrá-la e tomar suas posses, a moça incendeia a própria
casa e sai pelos fundos, fugindo com pouca bagagem e um ou outro “cabra”
fiel. A partir daí, ela se embrenha no mato, organiza roubo, constiui
morada, planta, manda matar, associa-se, cria gado e faz todo o possível
para se tornar uma fazendeira rica, poderosa e temida.
Raquel
escreveu o livro em primeira pessoa. Assim, a estoria é contada por quem
a viveu, e o leitor se delicia com a mudança constante de ponto de
vista: ora fala a personagem Marialva, ora o Beato Romano,e , no mais
das vezes, a própria Moura conversa com o leitor. É quase possível
vê-la, sentada no batente da fazenda, dentro de suas calças de homem,
contando os causos de sua vida.
Mas o fato é que essa dinâmica
entre os 3 narradores torna a obra tão envolvente, que as folhas correm
pelos nossos olhos como se tivessem vida própria. Ademais, não se pode
dizer que o livro traz uma estoria: são pelo menos 3, uma contada pelo
padre que pecou com uma paroquiana e virou beato, outra pela mulher do
saltimbanco, outra pela moça que incendiou a casa e virou vaqueira.
Escusado dizer que as 3 versões acabam se juntando. Entrelaçadas, formam
um painel de nordestinidade que Rachel soube pintar muito bem.
E, mesmo correndo o risco de ser prolixa, ainda afirmo que todo
nordestino devia ler e se orgulhar. Acostumados que estamos a
referenciais externos, é sempre bom e quase engraçado achar na
literatura a nossa linguagem, escrita por quem é de cá. (Só nós pra
entender expressões como “a casa das quengas”...)
Adaptado com
sucesso pela Rede Globo, e menos lido do que deveria, esse romance é boa
leitura para qualquer um e orgulho para o nordestino. (Sem esquecer
que, se Maria Moura é “arrochada”, Raquel não fica atrás, já que foi a
primeira moça a sentar seu tamborete na Academia Brasileira de Letras)."(Jéssica Callou - www.recantodasletras.com.br/)
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