sábado, 10 de dezembro de 2016

Chuva - Fernando Pessoa

Lá fora cai uma chuva suave, sem relâmpagos ou trovões... Esse mês de dezembro tem chovido todas as tardes e o cheiro de terra molhada invade nossas narinas. Daqui onde estou posso vislumbrar as folhas das árvores balançando, ouço o canto de alguns pássaros e um violão sendo tocado. Nesses momentos adoro ler poesias como essa de Fernando Pessoa.

"Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa,
Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
Este luzir é melhor.
O que é a vida? O espaço é alguém pra mim.
Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim
E, sem querer, tem dó.
Extensa, leve, inútil passageira,
Ao roçar por mim traz
Uma ilusão de sonho, em cuja esteira
A minha vida jaz.
Barco indelével pelo espaço da alma,
Luz da candeia além
Da eterna ausência da ansiada calma,
Final do inútil bem.
Que, se quer, e, se veio, se desconhece
Que, se for, seria
O tédio de o haver... E a chuva cresce
Na noite agora fria."

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