sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Irmão de Tiradentes Morou em Cuiabá

Eu estava lendo o site do Diário de Cuiabá e deparei-me uma notícia que já tinha ouvido falar, mas por falta de informações nunca dei muita importância.  Domingos da Silva Xavier, o irmão mais velho de Tiradentes tinha morado aqui em Cuiabá.

O profº Doutor Carlos Rosa, foi meu profº de História na UFMT, pesquisou o fato e mencionou em sua tese de Doutorado "Vida Urbana em Mato Grosso no Séc. XVIII", então resolvi postar a notícia aqui na íntegra.

"Inconfidência mineira é um episódio que aconteceu a cerca de 2 mil quilômetros daqui, nos confins das Geraes, e que não tem muitos vínculos com a história de Mato Grosso. Certo? Errado. Uma teia de indagações ainda não respondidas une o passado dos dois territórios – tendo como fio comum o irmão de Tiradentes, Domingos da Silva Xavier, que viveu na Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá no decorrer de dez anos.

O rastro deixado pelo irmão mais velho de Joaquim José é cheio de mistérios. Ele aportou em Mato Grosso ocultando o verdadeiro nome e atividade, e sua identidade permaneceu escondida no decorrer da década em que permaneceu em Mato Grosso. Se o disfarce teve vínculos com as atividades da Inconfidência, ainda é cedo para saber – mas o fato é que ele chegou na região apenas seis anos antes da explosão do movimento, o que é suficiente para intrigar pesquisadores.

O historiador Carlos Rosa, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), puxou o fio deste episódio. Para incorporar o assunto à sua tese de doutorado, “Vida Urbana em Mato Grosso no século XVIII” – defendida pela Universidade de São Paulo (USP) – dedicou-se a seguir os passos de Domingos da Silva Xavier. No decorrer de dois anos, recolheu pistas em Cuiabá, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde percorreu os municípios de Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana e Pitangui. Também conseguiu, a distância, informações do Museu Histórico Ultramarino, em Portugal.


E o resultado formado pela junção das peças deste quebra-cabeças é intrigante. Domingos da Silva Xavier – que, segundo historiadores, chegou a ser tutor do irmão Tiradentes, por terem perdido os pais precocemente – chegou em 1784, provavelmente pelo caminho das monções, por via fluvial. Veio acompanhado por três escravos, alegando chamar-se Joaquim José – como Tiradentes – Ferreira.

Domingos era padre. Durante cerca de três anos, foi vigário no Cuiaté, aldeia administrada pela capitania de Minas Gerais. Antes disso, circulou pelos principais núcleos urbanos mineiros. Mas desceu da embarcação com roupas laicas, afirmando ser comerciante do Rio de Janeiro. Chegando em Cuiabá, pediu autorização para advogar, e foi então procurador de pessoas importantes da Vila Real.

Por que ele chegou disfarçado? “Esta é uma pergunta que, por enquanto, posso apenas tornar visível”, disse o pesquisador. Isso porque não foram encontrados documentos capazes de sustentar que ele trocou de identidade por ser emissário da Inconfidência. “Mas é possível que esse seja o motivo”, cogitou Carlos Rosa.

Em depoimento prestado nos anos 90 do século XVIII – quando foi preso –, ele mencionou que saiu de Minas para viver em Cuiabá em busca de uma vida melhor. Informou ainda ter pedido licença sacerdotal para deixar as atividades eclesiásticas, o que foi confirmado através de documentos. Mas, no decorrer do relato, não mencionou o porquê de ter trocado de nome e de naturalidade.

Domingos da Silva Xavier foi preso em Cuiabá porque devia a representantes de grandes comerciantes da Bahia e Rio de Janeiro. Carlos Rosa conseguiu comprovar que os credores fizeram uma armadilha para o irmão de Tiradentes: pagaram testemunhas para declarar que ele contrabandeava diamantes. Assim, o que era uma acusação de inadimplência transformou-se em crime de lesa majestade.

Acuado, Domingos acabou revelando sua verdadeira identidade, em 1790. “Isso porque, como padre, teria direito a tratamento diferenciado. Até os padres envolvidos na Inconfidência Mineira tiveram”, explicou o historiador. Enquanto ele confessava seu nome em Mato Grosso, em Minas aconteciam as prisões dos inconfidentes.

Permaneceu em prisão domiciliar em Santo Antônio do Rio Abaixo – atual Leverger. Isso graças à ação dos chamados “fiéis carcereiros” – pessoas com bens suficientes para arcar com a liberdade condicional de acusados, responsabilizando-se pela recaptura em casos de fuga. Na nova morada e já depois de reassumir a identidade de padre, Domingos passou a rezar missas. Provavelmente, foi durante sua estadia em Santo Antônio que tenha recebido a notícia de que seu irmão havia sido morto e esquartejado."(www.diariodecuiaba.com.br). 



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