"Não é possível compreender o seqüestro do embaixador Elbrick fora do
contexto da política brasileira nos anos 1960. Apresentado inicialmente
como uma intervenção transitória, o golpe de abril de 1964 em poucos
meses se caracterizou como uma ditadura com prazo indeterminado. Apesar
de reprimida, a oposição ao regime mobilizou intelectuais, trabalhadores
e estudantes, atingindo seu ponto de maior contestação nas
manifestações de rua que se espalharam pelas principais capitais do país
durante o ano de 1968.
Em 13 de dezembro de 1968, os militares promulgaram o Ato
Institucional N° 5, promovendo um fechamento ainda maior do regime
militar e levando alguns setores da oposição, que ainda acreditavam na
contestação pacífica, a mergulhar na luta armada. De março a dezembro de
1970, mais três seqüestros de diplomatas resultaram na libertação de
outros 115 presos políticos. Aos seqüestros se somaram assaltos a bancos
para obtenção de fundos e ataques a quartéis para recolher armas e
munições. Essas ações demonstraram uma inegável capacidade ofensiva dos
grupos armados que se opunham ao regime. Por outro lado, fortaleceram as
posições daqueles que defendiam a intensificação da repressão e o
prolongamento da intervenção militar na vida nacional.
O momento do seqüestro
Às vésperas da Semana da Pátria de 1969, o Brasil vivia uma situação
política peculiar. O marechal Costa e Silva havia sido afastado da
presidência da República, em conseqüência de uma isquemia sofrida em 29
de agosto. Os ministros militares Aurélio de Lyra Tavares, Augusto
Rademaker e Márcio de Sousa Melo baixaram o Ato Institucional N° 12,
determinando que assumiriam eles o cargo vago, no lugar do
vice-presidente Pedro Aleixo, que foi submetido a uma prisão domiciliar.
Nessa conjuntura, a Dissidência Universitária da Guanabara (DI-GB)
adotou o nome MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e colocou em
prática, juntamente com a ALN (Ação Libertadora Nacional), um plano de
seqüestro do embaixador Charles Elbrick, visando à libertação de presos
políticos e a divulgação de um manifesto revolucionário.
As Forças Armadas, já divididas quanto à sucessão de Costa e Silva,
foram pressionadas pelos Estados Unidos a preservar a vida do diplomata.
Nas semanas seguintes, foram instituídas a pena de morte e a prisão
perpétua em tempo de paz, endurecida a Lei de Segurança Nacional e
editada a Emenda Constitucional Nº 1, que tornava ainda mais
discricionária a Constituição imposta ao país em 1967.
PERSONAGENS - Os presos libertados em troca do embaixador
Elbrick No Dia da Independência de 1969, os jornais de todo o país
estamparam, na primeira página, a fotografia de 13 presos políticos em
frente ao Hércules 56 da FAB. Em pé, apareciam Luís Travassos, José Dirceu de Oliveira, José Ibrahin, Onofre Pinto, Ricardo Vilas Boas, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Ricardo Zarattini e Rolando Frati.
Agachados, estavam João Leonardo Rocha, Agonalto Pacheco, Vladimir
Palmeira, Ivens Marchetti e Flávio Tavares. Não aparecem na foto
Gregório Bezerra e Mario Zanconato, embarcados em Recife e Belém, a
caminho do México. Dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador
Elbrick, seis já faleceram. Os nove remanescentes do grupo (em negrito,
acima) são os personagens principais de HÉRCULES 56."( www.historianet.com.br/)
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