sábado, 31 de outubro de 2015

A Magia e o Universo de Harry Potter

"Misture crenças da Idade Média e da Idade Moderna, adicione mitologias da Antiguidade e tempere com boas pitadas de invenção: eis a receita do estrondoso sucesso que foi Harry Potter.

Harry Potter é o bruxinho mais famoso do mundo, certo? Não exatamente. Suas características principais, na verdade, têm mais a ver com as dos magos da Idade Média, que ocupavam lugar de destaque ao lado de reis e rainhas (e nada têm a ver com bruxas que voam de vassoura). Como o personagem criado pela inglesa J.K. Rowling, os magos medievais também tinham grandes conhecimentos sobre supostos encantos e feitiçarias. A diferença é que a mágica do jovem Harry funciona para valer – não só na ficção, mas no mercado literário e cinematográfico.

Os fãs aguardaram ansiosamente durante sete livros para conferir o embate final entre Harry Potter e Lord Voldemort. Durante a saga, Harry usou as habilidades que aprendeu na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde estudou. Essa instituição fictícia, aliás, nos dá as primeiras pistas de que J.K. Rowling se inspirou em fatos históricos para compor os cenários, personagens e situações de suas tramas.

A milenar Hogwarts ensina a seus alunos os segredos de alquimia, astrologia e cabala, além das artes da adivinhação e dos feitiços e poções. Exatamente como ocorria em Toledo, cidade espanhola que foi a capital moura na Europa e se tornou um centro em que magos aprendiam as chamadas ciências ocultas e buscavam a pedra filosofal, que transformaria qualquer metal em ouro e produziria o elixir da vida.

Um dos seus mais ilustres alunos foi o suíço Paracelso, que viveu entre o fim do século 15 e o início do 16. Ele afirmava ter aprendido muito com as feiticeiras e, por ter criado remédios e terapias curativas, é considerado um dos fundadores da química e da medicina modernas.

Paracelso é um exemplo de como, apesar de não fazerem mágica, os magos tinham uma grande relevância cultural e social, inclusive por cuidar da saúde das pessoas. “Os magos eram eruditos, estudavam para tentar conseguir intervir nas forças da natureza por meio de segredos e práticas ocultas”, diz o historiador Carlos Roberto Figueiredo Nogueira, professor da Universidade de São Paulo e autor de Bruxaria e História: as Práticas Mágicas no Ocidente Cristão. 

Além dos magos, ligados à nobreza, havia também as feiticeiras. Personalidades importantes nas comunidades da Idade Média, eram mulheres que conheciam ervas, faziam poções, lançavam feitiços e divulgavam superstições.






Já as bruxas surgiram posteriormente, na Idade Moderna: eram mulheres consideradas participantes de uma seita que tinha pacto com o diabo. “As bruxas representariam o mal e eram perseguidas e queimadas na fogueira, onde as feiticeiras também acabaram parando. 

Os magos não, eles continuaram a ser respeitados”, diz Nogueira. Admirador dos livros de J.K. Rowling, que acha divertidíssimos, o professor Nogueira ressalva que, embora a escritora tenha feito um bocado de pesquisa, muitas vezes foi às fontes erradas. “Harry é um jovem mago, mas usa a vassoura das bruxas e aprende poções de feiticeiras.

A autora fez uma colagem de elementos do universo mágico, mas usou coisas do esoterismo que surgiu no fim do século 19, quando apareceu muita fantasia sobre as origens da bruxaria.”

Durante as aventuras do mago, J.K. Rowling menciona lendas antigas, como a do alquimista Nicolau Flamel, que no século 14 teria encontrado a tal pedra filosofal e o elixir da vida eterna – em A Pedra Filosofal ele aparece com mais de 600 anos. 

Grandes personalidades da história da magia, aliás, são o tema do álbum de figurinhas que faz o maior sucesso entre os estudantes de Hogwarts. Alguns verdadeiros, como Paracelso e o germânico Cornélio Agrippa de Nettesheim (1486-1535) – médico da casa real de Savóia, na França, ele escreveu De Occulta Philosophia, livro que atraiu a atenção dos renascentistas para a cabala e a magia. 

Entre as figurinhas, que vêm como brinde nas embalagens de um quitute chamado “sapo de chocolate”, há também magos fictícios, como a grega Circe, que usa suas poções na Odisséia, de Homero. E na coleção não poderia faltar Merlin, poderoso conselheiro dos reis britânicos Uther Pendragon e Artur."(maishistoria.com.br)

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