Domingão chuvoso e a primavera com cara de outono nos deixa com vontade de ficar deitada curtindo uma boa música, filme ou um livro. Eu estava lendo o Jornal A Gazeta e descobri que saiu uma edição sobre as Mulheres consideradas Bruxas, numa abordagem totalmente diferente daquela que costumo apresentar nas aulas de Idade Média.
Mesmo estando no Séc. XXI a palavra "Bruxa", ainda provoca medo nas pessoas simplesmente por falta de leitura sobre o assunto. O que na era da informação isso possa ser um absurdo, entretanto, existe pessoas tão incultas que chega a espantar... Nem precisa dizer que quando encontro um aluno ou aluna, pai ou mãe dizendo que a "bruxaria" é coisa do demônio, fico pasma para não dizer outra coisa.! Então, recomendo a leitura desse livro e de outros que tratem do tema.
"Quando se fala das origens do capitalismo, geralmente as bases teóricas usadas são Marx e Foucault
– homens que estudaram as formas pelas quais o sistema se impôs sobre a
sociedade e sobre os corpos, respectivamente. Uma mulher, no entanto,
notou que há algo faltando nessas análises: um olhar sobre o feminino.
Trata-se da historiadora italiana Silvia Federici que passou trinta anos em busca desse feminino ausente. A conclusão de seus estudos aparece em Calibã e a bruxa
(2004), livro que investiga o que houve com as mulheres durante a lenta
e gradual instalação do capitalismo – e que coloca a caça às bruxas
como o grande evento responsável por aniquilar a participação, a força e
a resistência femininas, que até então eram comuns nas comunidades
praticamente do mundo inteiro.
Treze anos depois, Calibã e a bruxa ganha uma edição em português, graças aos esforços das mulheres do Coletivo Sycorax,
de São Paulo. Em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e com a
revisão de diversas mulheres nas redes sociais, elas passaram meses no
processo de tradução até chegar no livro de 460 páginas repleto de
ilustrações e gravuras do período medieval.
(...)
Em Calibã e a Bruxa, Federici pinta um quadro do feudalismo
muito diferente daquele explicado à exaustão nas salas de aula e nos
livros didáticos. “Não foi um período monótono, com suas damas e
cavaleiros. Pelo contrário: havia muita luta, porque as pessoas
percebiam que estavam sendo afastadas da terra e de suas vidas
comunitárias naquele tempo que viria ser reconhecido como um embrião do
capitalismo”, disse, durante o lançamento.
Até aquele momento, existiam mulheres com acesso à terra: eram
lavradoras, pedreiras, parteiras e curandeiras. Mulheres que possuíam
conhecimentos sobre ervas e sobre a natureza, e que, principalmente,
tinham autonomia sobre seus corpos, decidindo elas mesmas sobre a
gravidez ou o aborto. “Ali, os processos reprodutivos estavam em pé de
igualdade com a produção”, afirmou.
A caça às bruxas, então, teria vindo como uma forma de sequestrar das
mulheres toda a autonomia de que desfrutavam. As “bruxas”, postas como
“servas do diabo”, eram todas mulheres sábias, independentes,
irreverentes e muitas vezes pobres e solteiras. Enquanto morriam nas
fogueiras, queimava junto com elas a resistência ao incipiente
capitalismo.
(...)
“O grande problema é que a reprodução dentro do sistema capitalista
não é vista como um trabalho, mas como um dom natural, biológico”. Por
isso, as mulheres foram, pouco a pouco, afastadas do trabalho e
tornando-se dependentes dos homens, já que eram eles ganhavam dinheiro.
Por ter sido implantada de forma tão gradual, a opressão feminina e seu
afastamento do trabalho passaram a ser vistos como normais, quando, na
verdade, “eram bases criadas para o sistema capitalista, e que funcionam
até hoje”."(https://revistacult.uol.com.br)
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