Quando se fala no acidente nuclear de Chernobyl, temos a impressão que lá não ficou ninguém. Mas, ao contrário do que se pensa, atualmente existe lá 158 pessoas convivendo com os altos níveis de radiação...
"Com
uma média de idade de 75 anos, ainda vive na zona de exclusão de
Chernobyl uma centena de pessoas, que, em sua maioria, retornou depois
da catástrofe, apesar da radiação e da oposição das autoridades
ucranianas.
"Na
realidade não sei porque existem pessoas que desejam viver em
Chernobyl. Qual é o seu objetivo? Seguem o que diz o coração? A
nostalgia? Quem sabe?", questiona Evgueni Markevitch, de 78 anos.
"Mas eu só quero viver em Chernobyl", completa.
Evgueni tinha 8 anos quando sua família se mudou para a cidade, na época soviética.
"Isto
nos salvou da fome, podíamos plantar e fazer a colheita dos nossos
alimentos", recorda, justificando de algum modo seu apego pela região.
"Nunca quis sair daqui".
Quando
o reator número 4 da central nuclear soviética explodiu em 26 de abril
de 1986 durante um teste de segurança, Evgueni estava no colégio com
seus alunos.
"Era
um sábado e logo depois do acidente não sabíamos nada sobre o que havia
acontecido. Suspeitávamos de algo porque observamos os ônibus e
veículos militares que seguiam para Pripyat", uma cidade de 48.000
habitantes - incluindo funcionários da central - que fica a três
quilômetros de Chernobyl.
"Ninguém nos disse nada. Era o silêncio total", relata.
Evgueni
foi finalmente retirado da cidade, mas pouco depois já desejava
retornar. Ele inventou todo tipo de estratégias para poder entrar na
zona proibida. Se passou por marinheiro e por policial responsável por
monitorar a entrega de produtos petrolíferos.
Conseguiu
ser recebido pelo diretor do serviço de vigilância de radiações da
estação e pediu um emprego, que conseguiu. Desde então nunca mais saiu
da área contaminada. Contra todas as expectativas, nunca teve problemas
de saúde.
Ele admite que planta legumes em seu jardim e consome os produtos.
"Há uma parte de risco", resume.
'Como guerrilheiros'
Para
Maria Urupa, no entanto, os sorrisos são raros. As condições de vida
rudimentares na zona de exclusão de 30 km ao redor da central começaram a
pesar sobre a octogenária, em particular porque tem problemas para
caminhar desde que sofreu um acidente.
No
total, 158 "samosely", como são chamados, vivem na região, de acordo
com um diretor da central, em pequenas casas de campo, a maioria de
madeira.
Eles
vivem com que conseguem cultivar em suas hortas, além de alguns
mantimentos entregues pelos funcionários da central nuclear e
visitantes. Em caso de necessidade, viajam até a cidade de Ivankiv, fora
da zona exclusão, para comprar o necessário no mercado local.
Os
"samosely" nunca aceitaram o êxodo forçado. Desta maneira, mais de mil
deles retornaram depois da catástrofe para a zona altamente contaminada e
vetada à população. As autoridades terminaram por aceitar a situação.
No
momento da catástrofe, Maria propôs ao marido que se escondessem no
porão para escapar da evacuação. Mas a ideia não deu certo.
"Foi
triste. Havia lágrimas e lamentos", recorda. Depois de passar dois
meses em um centro para desabrigados, ela decidiu retornar "com um grupo
de seis pessoas, através da floresta, como se nós fôssemos
guerrilheiros".
"Mas hoje é duro viver sozinha", admite. Seu marido faleceu em 2011.
Aos
77 anos, Valentina Kujarenko lamenta os obstáculos que seus parentes
precisam superar para poder visitá-la e que, além disso, só podem
permanecer por três dias. Ao mesmo tempo, não se arrepende de ter
retornado a Chernobyl.
"Dizem
que os níveis de radiação são altos. Não sei. Talvez a radiação faça
algo aos mais nove, aos que nunca viveram aqui. Mas nós, os velhos, o
que teríamos a temer?", questiona com simplicidade."(Notícias Yahoo)
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