domingo, 30 de setembro de 2018

Calibã e a Bruxa - Livro

Domingão chuvoso e a primavera com cara de outono nos deixa com vontade de ficar deitada curtindo uma boa música, filme ou um livro. Eu estava lendo o Jornal A Gazeta e descobri que saiu uma edição sobre as Mulheres consideradas Bruxas, numa abordagem totalmente diferente daquela que costumo apresentar nas aulas de Idade Média.

Mesmo estando no Séc. XXI a palavra "Bruxa", ainda provoca medo nas pessoas simplesmente por falta de leitura sobre o assunto. O que na era da informação isso possa ser um absurdo, entretanto, existe pessoas tão incultas que chega a espantar... Nem precisa dizer que quando encontro um aluno ou aluna, pai ou mãe dizendo que a "bruxaria" é coisa do demônio, fico pasma para não dizer outra coisa.! Então, recomendo a leitura desse livro e de outros que tratem do tema.

"Quando se fala das origens do capitalismo, geralmente as bases teóricas usadas são Marx e Foucault  – homens que estudaram as formas pelas quais o sistema se impôs sobre a sociedade e sobre os corpos, respectivamente. Uma mulher, no entanto, notou que há algo faltando nessas análises: um olhar sobre o feminino.

Trata-se da historiadora italiana Silvia Federici  que passou trinta anos em busca desse feminino ausente. A conclusão de seus estudos aparece em Calibã e a bruxa (2004), livro que investiga o que houve com as mulheres durante a lenta e gradual instalação do capitalismo – e que coloca a caça às bruxas como o grande evento responsável por aniquilar a participação, a força e a resistência femininas, que até então eram comuns nas comunidades praticamente do mundo inteiro.

Treze anos depois, Calibã e a bruxa ganha uma edição em português, graças aos esforços das mulheres do Coletivo Sycorax,  de São Paulo. Em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e com a revisão de diversas mulheres nas redes sociais, elas passaram meses no processo de tradução até chegar no livro de 460 páginas repleto de ilustrações e gravuras do período medieval.

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Em Calibã e a Bruxa, Federici pinta um quadro do feudalismo muito diferente daquele explicado à exaustão nas salas de aula e nos livros didáticos. “Não foi um período monótono, com suas damas e cavaleiros. Pelo contrário: havia muita luta, porque as pessoas percebiam que estavam sendo afastadas da terra e de suas vidas comunitárias naquele tempo que viria ser reconhecido como um embrião do capitalismo”, disse, durante o lançamento.

Até aquele momento, existiam mulheres com acesso à terra: eram lavradoras, pedreiras, parteiras e curandeiras. Mulheres que possuíam conhecimentos sobre ervas e sobre a natureza, e que, principalmente, tinham autonomia sobre seus corpos, decidindo elas mesmas sobre a gravidez ou o aborto. “Ali, os processos reprodutivos estavam em pé de igualdade com a produção”, afirmou.

A caça às bruxas, então, teria vindo como uma forma de sequestrar das mulheres toda a autonomia de que desfrutavam. As “bruxas”, postas como “servas do diabo”, eram todas mulheres sábias, independentes, irreverentes e muitas vezes pobres e solteiras. Enquanto morriam nas fogueiras, queimava junto com elas a resistência ao incipiente capitalismo.

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“O grande problema é que a reprodução dentro do sistema capitalista não é vista como um trabalho, mas como um dom natural, biológico”. Por isso, as mulheres foram, pouco a pouco, afastadas do trabalho e tornando-se dependentes dos homens, já que eram eles ganhavam dinheiro. Por ter sido implantada de forma tão gradual, a opressão feminina e seu afastamento do trabalho passaram a ser vistos como normais, quando, na verdade, “eram bases criadas para o sistema capitalista, e que funcionam até hoje”."(https://revistacult.uol.com.br)

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