terça-feira, 17 de março de 2020

Todas as Mulheres dos Presidentes - Livro

 
Em alguns dias irei começar o ano letivo de 2020 e a História do Brasil tem a preferência dos alunos justamente por causa do Enem. Sempre começamos pela República Velha, 1889-1930, e chegamos até o governo atual. Destacamos a figura dos presidentes, mas e suas esposas? Por incrível que pareça nunca nenhum aluno faz essa pergunta, talvez por desconhecimento ou por não achar interessante.

Entretanto, os jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza nos respondem através de uma pesquisa de oito meses e o livro, que reúne perfis das primeiras-damas do país a partir de Mariana, mulher de Deodoro da Fonseca, até Michelle Bolsonaro. E para quem deseja saber sobre as "intrigas palacianas", traições e outras coisas eu recomendo. 


Algumas dessas mulheres que ocuparam os palácios presidenciais não ultrapassaram o domínio do lar, mas outras romperam com esse papel e, sim, podemos dizer que ajudaram na construção política e social do país, para o bem ou para o mal.
 
 "O desafio de contar uma outra perspectiva da história brasileira, sob o olhar das 34 primeiras-damas, com perfis e descobertas inusitadas motivou os jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo a escreverem o livro Todas as mulheres dos presidentes. O título é referência ao filme Todos os homens do presidente, longa que fala sobre o roubo de 1972 da Sede do Partido Democrático no condomínio Watergate.
 

Em oito meses de pesquisas minuciosas, o livro conta histórias que foram descobertas por meios de leituras secundárias. “Achávamos as informações entre vírgulas, porque existem poucos materiais sobre as primeiras-damas, muitas vezes, apenas as datas de nascimento, casamento e falecimento. Foi um grande desafio”, diz Murilo.
 

Mesmo assim, as várias leituras renderam interessantes descobertas e curiosidades. Por exemplo, em 130 anos de República, cinco presidentes foram casados com primas. Além disso, 13 das 34 se casaram antes dos 20 anos, e apenas três cursaram ensino superior. Outro fato interessante é que a primeira-dama Jandira Café, esposa de Café Filho, foi jogadora profissional de futebol, atuando como goleira do Alecrim, clube do Rio Grande do Norte.
Qual a importância de trazer esse olhar feminino sobre a história?
 

Murilo: Ao estudar as primeiras-damas, percebemos um retrato da mulher na sociedade também. Por exemplo, das 34, apenas três (Ruth Cardoso, Rosane Malta e Marcela Temer) têm nível superior, e somente a Ruth conseguiu exercer a função pela qual ela se formou, isso reflete a posição das mulheres na sociedade. Elas também se casavam cedo: 13 com menos de 20 anos, três com apenas 14 anos. Podemos perceber até mudanças fisiológicas, porque essas mulheres, ao casarem cedo, também tinham muitos filhos. Às vezes, passavam 18 anos sem ter um ciclo menstrual. As mulheres da virada do século tinham na vida inteira 40 a 50 ciclos, hoje as mulheres têm de 400 a 500 ciclos. Contamos também em cada capítulo como era a época de cada primeira-dama e como era a posição da mulher na sociedade na época.
Dentre as 34 histórias, qual foi a que mais chamou atenção? Por quê?
 

Ciça: A minha é a Sara Kubitscheck, que, com Juscelino, conseguiram trazer um orgulho e uma alegria para o país que foram inéditos. Ela era uma pessoa de gosto sofisticado e tinha uma visão de mundo muito para frente. Instituiu a prevenção do câncer ginecológico no Brasil, a mãe dela morreu disso, ela percebeu aquilo junto com o médico Campos da Paz, e instituiu a prevenção. Ela também teve um casamento infeliz com Juscelino, mas, mesmo assim, foi uma mulher brilhante.
 

Murilo: Para mim, é a Ruth Cardoso. Ela, nos anos 1950, pegava o carrinho dela (morava em São Paulo) e ia a Sorocaba dirigindo sozinha de noite para dar aula, enquanto Fernando Henrique ficava em casa cuidando das crianças. Quando ela assumiu, ela trouxe toda a bagagem que ela aprendeu com a antropologia, para levar para o governo. A função da primeira-dama era associada ao assistencialismo, mas ela quebrou com isso e, de fato, fez uma política social, criando o Comunidade Solidária, que era um programa que tinha dois focos: combater o analfabetismo e trazer a segurança alimentar. Foi impressionante o que ela fez nesse período."

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