segunda-feira, 3 de junho de 2019

José Pacheco - Um Educador de Respeito


Nos últimos meses o Governo Federal e  o Ministério da Educação, elegeram os professores como os "culpados" pelo desemprego, falta de recursos para a previdência e outros absurdos. E pensar que já houve um tempo em que ser uma NORMALISTA era o sonho de muitas moças de famílias tradicionais e mesmo das de menor poder aquisitivo.

Eu como profissional da Educação, professora, há 37 anos me sinto como a última bolacha do pacote. E a pressão não vem somente do Governo, mas da sociedade em geral: pais e alunos não nos valorizam e não nos respeitam mais.! Todos os dias somos enxovalhados, acusados, violentados em nossa dignidade! 

Lidamos diariamente com alunos sem respeito, sem ética; que ficam dormindo em pleno horário de aula; que preferem os vídeos idiotas do youtube aos conhecimentos que lhes apresentamos; que na Era da Informação são "analfabetos" digitais e muitos sequer sabem realizar uma pesquisa decente; somente alguns possuem criticidade;que não fazem as tarefas de casa;  alguns são agressivos e desconhecem as palavras "por favor e com licença"... E o pior, são os alguns pais que dão apoio aos filhos irresponsáveis e mal educados.

Alguns colegas estão em licença médica e não pretendem retornar as salas de aulas, outros como eu estão pensando seriamente em pedir aposentadoria. Como realizar um bom trabalho se a todo momento nos acusam de doutrinadores, de "vagabundos", de falir o sistema previdenciário? Enquanto que os verdadeiros culpados se aposentam com dois mandatos, ganham mais de vinte mil reais e muitos sequer possuem curso superior.!

No meio de tanto ataque ainda é possível encontrar alguém que nos entende como o Educador português José Pacheco. Ele deu uma entrevista ao site da Uol há duas semanas e separei alguns trechos, onde ele nos alenta com sua sabedoria...

"Pacheco vive no Brasil há pouco mais de uma década. Atualmente, é coordenador do projeto EcoHabitare e integra o conselho do Projeto Âncora, escola de Cotia (interior de São Paulo) criada aos moldes da Ponte de Portugal, mas que recentemente passa por uma reformulação.

UOL – Como o senhor vê os cortes no orçamento das universidades federais, recentemente anunciado pelo governo? Eles são necessários para aumentar o investimento na educação básica?
 

José Pacheco – Esse é mais um falso pretexto, para disfarçar ocultos interesses. A política educacional tem sido pródiga em fake news. Foram contingenciados R$ 29 bilhões do Orçamento federal de 2019. O Ministério da Educação foi o mais afetado. O congelamento de verba chegou a R$ 5,8 bilhões, cerca de 25% do orçamento original. É evidente o “efeito dominó” nos cortes no orçamento das universidades federais: a educação básica [também] será atingida.

Que tipo de impacto pode haver na redução de investimentos em áreas como a filosofia e a sociologia? Qual é a importância dessas disciplinas?
 

Trata-se de mais uma medida absurda da política educacional. É evidente que essas áreas são tão importantes como as restantes, numa perspectiva de educação integral do ser humano. Mas isso é algo que os ministros ignoram. O fenômeno não é recente, apenas se agravou. Os titulares da pasta da Educação têm sido economistas, engenheiros, jornalistas, advogados, pessoas respeitáveis e conhecedores das suas áreas profissionais, mas que nada sabem da educação, daquela que é necessária, possível e urgente.

Durante uma entrevista no final de abril, o presidente Jair Bolsonaro defendeu a mudança do educador Paulo Freire como patrono da educação no Brasil. O que significa tirar de Freire este título?
 

Um slogan tem sido reproduzido na mídia e no discurso de certos políticos: “Paulo Freire fora das escolas!”. Mas, como poderá ele sair das escolas, se ele nunca nelas entrou? Em tempo de pós-verdade, abundam freirianos não-praticantes e prevalece a ignorância desses políticos.  

Por que o senhor acha que o movimento Escola sem Partido ganhou tanto espaço e adeptos entre a população brasileira? O senhor vê um viés nas escolas do país? É possível educar sem “ideologia”?
 

É impossível educar sem ideologia e não se deverá confundir ideologia com doutrinação. Mas a confusão está instalada e aproveitada por políticos sem escrúpulos, para impor a sua… Ideologia. O debate sobre educação é ‘terra de ninguém’, onde abundam disparates como o da Escola sem Partido.

Como o senhor vê o projeto de Jair Bolsonaro para o ensino domiciliar de crianças? Quais são as possíveis vantagens e desvantagens de flexibilizar a legislação sobre o tema?
 

O “homeschooling” não é solução para os males que afetam o sistema educativo. Entre ouvir aula em casa, ou ter aula na escola, prefiro a aula na escola, dada por professores qualificados e competentes.

O “ensino domiciliar” é um “salve-se quem puder”, estratégia de quem pode “salvar-se” porque tem recursos para tal, mero paliativo de um modelo educacional obsoleto, concebido no século 19 e responsável por um autêntico genocídio educacional. Também será fator de transformação da educação em mercadoria.

Há quem creia que se aprende sozinho, com o auxílio de um tutor de aula, ou da internet. Aprendemos uns com os outros, na atribuição de sentido, na produção de conhecimento, criando vínculos. A aprendizagem acontece na relação, em múltiplos espaços. Pode acontecer num prédio a que é costume dar o nome de “escola”. Mas, também, acontece nos lares, nas bibliotecas públicas, nas igrejas, nas empresas, na internet, nos campos e florestas, nas ruas e praças. E, para que aconteça, não carece de decreto. Não faz sentido legalizar o “ensino domiciliar”. Falemos, antes, de aprendizagem multidomiciliar."

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