terça-feira, 5 de novembro de 2019

Professor escreve uma possível Redação Nota Mil...

Os estudantes não falam em outra coisa que não seja o tema da Redação do Enem "A democratização do acesso ao Cinema no Brasil". Eu achei toppppppp justamente por ser cinéfila desde criança e como uma leitora voraz estava ansiando por esse tema há anos.
 

Agora o interessante do tema é a palavra "democratização" quando nos últimos meses tivemos censurados: a peça infanto-juvenil Abrazo, no espaço Caixa Cultural do Recife; a Caixa Econômica suspendeu mais duas peças, um ciclo de palestras e uma mostra de cinema sobre a cineasta Dorothy Arzner que aconteceriam em seus espaços culturais; os filmes Nosso Sagrado, Rebento e Mente Aberta tiveram a exibição cancelada no Centro Cultural da Justiça Federal no Rio. O espetáculo Caranguejo Overdrive foi retirado da programação do Centro Cultural do Banco do Brasil, também no Rio.
 

Será que existe um novo conceito para democratização que ainda não conhecemos? E a minha pergunta é: vamos ter acesso a que tipo de filmes, peças, músicas, exposições? Eu confesso que não ouvi nenhum de meus alunos fazerem esse tipo de questões... E disseram que esse Enem não deveria ter nenhuma polêmica!
 

Eu achei um exemplo de redação que receberia uma nota mil; é claro que foi escrita por um professor, mas em tempos de desinformação sobre qualquer tema... Principalmente quando na Era da Informação os jovens estão mais desinformados do que nunca.


"Se é verdade que o Brasil foi constituído por diversos povos — indígenas, africanos e europeus —, possuindo, assim, uma rica diversidade cultural, também é verdade que a produção cultural no país é pujante, e não raro conquistamos prêmios internacionais no teatro e no cinema. Entretanto, infelizmente, parte da população não consegue assistir a essas produções cinematográficas, pois o acesso à sétima arte não é democratizado. Tal fator se deve, principalmente, aos altos custos, aliados à pirataria e às novas plataformas de streaming, que distanciam o público. Nesse sentido, precisa haver mudanças a partir de medidas interventivas a fim de que essa experiência estética seja usufruída universalmente.
Quando surgiu, na França de 1895, pelas mãos dos irmãos Lumière, o cinema assustou seus primeiros espectadores, que fugiram da sala com medo do trem — em movimento na tela — os atingir. Isto comprova o impacto de tal experiência estética, que ganhou o mundo rapidamente, transformando-se no produto cultural mais rentável e num dos principais entretenimentos da classe média brasileira. Todavia, embora muitas produções tenham um altíssimo preço de custo, o valor do ingresso, na maioria das vezes, é muito caro, o que afasta a população menos favorecida. Um dos motivos para que isso aconteça é o fato dos cinemas estarem concentrados nos grandes centros urbanos — de acordo com o IBGE, apenas 11% das cidades brasileiras possuem salas de cinema — e, geralmente, em shoppings centers , o que, natural e infelizmente, já segrega parte da população.
 
Outrossim, nas últimas décadas, o comércio ilegal — popularmente denominado “pirataria” —aumentou significativamente, tendo como marco o filme “Tropa de Elite”, cuja estreia foi prejudicada por um vazamento antecipado da película na venda paralela. Além disso, os serviços de streaming , como a Netflix, popularizaram-se no Brasil e no mundo, facilitando o acesso a produções de qualidade de forma mais barata e mais cômoda. Logo, as antigas locadoras de vídeos foram paulatinamente fechando suas portas, e as salas de cinema, esvaziando no mesmo ritmo. Percebe-se, então, com o avanço das tecnologias, que as novas gerações perderam o hábito de ir ao cinema, mesmo quando possuem capital para frequentá-lo. Tal dinâmica torna-se um problema na medida em que a fruição estética de tal experiência, conforme Eisentein, não se limita apenas ao filme, pois abrange também a imagem e o som possíveis apenas nas salas destinadas a este fim.
 
Portanto, é urgente que o cinema se revitalize, tornando-se mais barato e atingindo novos públicos. Para isso, a Ancine — órgão responsável pela produção cinematográfica do país —, em parceria com as escolas públicas e privadas, deve criar um projeto que leve mensalmente os estudantes ao cinema, com preços mais baratos para produções nacionais. Dessa forma, os jovens valorizarão a produção local e criarão um hábito desde cedo. Espera-se, assim, que, futuramente, o acesso ao cinema seja mais democrático e mais pessoas tenham acesso à sétima arte — e, consequentemente, mais conhecimento da diversidade cultural existente no Brasil."(Texto do professor Henrique Araújo, do Me Salva)

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