A História é sempre fascinante e ainda tem governante pensando em acabar com essa disciplina nas escolas. É claro que consideramos um absurdo, mas não vamos nos ater a isso. Os livros didáticos sempre falam dos homens, política, economia, guerras e a sociedade, principalmente sobre as mulheres pouco se escreve. Então, surgem os historiadores e suas pesquisas, monografias e teses sobre as minorias desprezadas que fazem parte da sociedade brasileira e mundial.
Pouca gente já ouviu falar que no Brasil do séc. XIX, além de escravas negras, existiam as escravas brancas vindo da Europa. Sim, para serem as prostitutas de luxo! Aqui mesmo em Cuiabá existia o famoso "palácio das águias", uma residência de alto padrão, que recebia as moças europeias.
E para quem gosta de Histórias que não estão nos livros didáticos eu recomendo o livro da historiadora Esther Largman Jovens Polacas. É leitura obrigatória. Pela grandeza da estreia de Esther Largman, por seu caráter documental, e pelo cumprimento, ainda que sujeito a fissuras, de elaborada base literária – a mescla de narrativa memorialística de um personagem com romance de formação de outro.
Baseado no livro saiu o filme do mesmo nome com lançamento no final de fevereiro deste ano, entretanto, aqui em Cuiabá não foi apresentado e acredito que com a pandemia da Covid 19 ele não chegou em todos os cinemas do Brasil. Mesmo assim recomendo a leitura de textos ou do livro sobre essas mulheres que viveram e morreram discriminadas pelos próprios judeus, sendo obrigadas a criar um Cemitério conhecido como "das polacas" no Rio de Janeiro.
"Não foram só imigrantes estrangeiros e migrantes de outras regiões do país que movimentaram o porto do Rio de Janeiro a partir de 1850, com a expansão urbana. A nova aristocracia do café abriu espaço para uma prostituição de luxo com status inédito: desembarcavam na antiga capital do Brasil meretrizes europeias. Iniciar-se sexualmente ou trair a esposa com uma francesa (embora elas viessem de diversos países) virava símbolo de modernidade e do refinamento dos costumes.
Essa novidade logo foi seguida pela chegada de loiras e ruivas mais em conta, a partir de 1867, que estenderam o glamour do sexo internacional a clientes de menor renda. Eram mulheres da Europa Oriental, chamadas genericamente por aqui de polacas (fossem polonesas mesmo ou russas, húngaras e austríacas). Judias na maioria. Mas a trajetória dessas garotas – fugidas da miséria rural e dos pogroms que aterrorizavam as comunidades judaicas do Leste Europeu – não teve nada do champanhe importado e das grandiosas festas dos bordéis da alta sociedade.
Pobres, quase sempre analfabetas, eram aliciadas por cafetões judeus e acabavam na condição de escravas brancas. A história sofrida dessas mulheres, vítimas constantes da opressão mais violenta, é contada no filme Jovens Polacas (que entrou em cartaz no fim de fevereiro), do diretor Alex Levy-Heller, inspirado em livro homônimo da historiadora Esther Largman.
O enredo se divide em duas narrativas. No tempo presente, Mira (Jacqueline Laurence) é uma idosa judia que dá depoimentos para um jornalista (Emilio Orciollo Netto) sobre quando, em sua infância, foi testemunha do cotidiano desse baixo meretrício com sotaque – do qual fazia parte sua mãe, associada a um trauma que bloqueia partes da memória de Mira.
As empostações dos atores são teatrais, e as imagens alternam entre edição não convencional e muitos closes nos personagens, numa tentativa de aproximar o espectador da essência que os clientes viam como mistério nessas prostitutas. Mas sua realidade estava mais próxima da de figuras discriminadas que de femmes fatales exóticas. Tanto que a sociedade judaica da época não lhes permitia nem um enterro digno – a exemplo do que acontece com os suicidas.
O estigma as obrigou a ter um local de repouso separado, o Cemitério Israelita de Inhaúma, na zona norte do Rio. Fundado em 1916 pelas próprias prostitutas, ficou conhecido como Cemitério das Polacas."(aventuranahistoria)
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