IVALDO MARCIANO DE FRANÇA LIMA
"Só tem guerras, fome e tribos primitivas: a África através das
histórias em quadrinhos do Fantasma, Tintim e Soldado Desconhecido.
Ainda hoje as revistas em quadrinhos são vistas com certa desconfiança
por muitos historiadores. Por razões diversas, atribuem-se as mesmas um
estatuto de objeto infantil ou inútil para a pesquisa histórica. Porém,
o que são as revistas em quadrinhos?
Elas possuem o poder de transmitir
ideias e representações, construindo conceitos e preconceitos sobre
seus temas, influindo na forma de pensar das pessoas.
O Fantasma, por
exemplo, é um herói que não possui superpoderes. Vive em algum lugar da
África, mais precisamente na caverna da caveira, que é também o lugar em
que moram os pigmeus bandar, temidos por suas flechas venenosas e ritos
mágicos poderosos. As “tribos” africanas acreditam que Fantasma vive há
mais de quatrocentos anos, por isso é também conhecido como “O Espírito
que Anda”.
Tintim é um misto de repórter e detetive. Sempre as voltas
com investigações diversas, suas viagens mostraram diferentes partes do
mundo. A “África” foi um dos muitos lugares visitados por este
personagem. Diferente de Fantasma, que tinha no continente africano o
cenário da maior parte de suas histórias, Tintim teve apenas uma de suas
aventuras neste “lugar”.
O Soldado Desconhecido, personagem menos
famoso do que Tintim e Fantasma, é na verdade um médico ugandense que se
refugiou nos Estados Unidos quando criança, e retornou para sua terra
natal com o objetivo de reconstruir o país. Perante um cenário de
guerras e atrocidades diversas, é tomado por vozes que vieram em sua
mente, e decide combater as tropas do Exército do Senhor (LRA), após
desfigurar o próprio rosto, em meio a uma crise e angústia que foi
tomado diante das mortes de crianças em Uganda.
Ora retratado como palco
de guerras, conforme as páginas do soldado desconhecido, ora como um
lugar “de homens e mulheres primitivos”, conforme as páginas das
revistas do Fantasma e Tintim, a África foi representada através de
estereotipias e clichês.
Ao longo dos anos, desde o surgimento das
revistas do Fantasma no Brasil, na década de 1940, os quadrinhos
representaram o continente africano de diferentes maneiras. A maior
parte destas histórias protagonizaram diferentes cenários em que os
povos do continente africano apareciam de formas grotescas, em alguns
casos, a exemplo de Fantasma e Tintim, desenhados de modo que o leitor
aceitasse as formas primitivas dos “africanos”.(XXVII - Simpósio Nacional de História - 2013)
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