quarta-feira, 26 de março de 2014

A Ideologia nas Histórias em Quadrinhos

 IVALDO MARCIANO DE FRANÇA LIMA  
"Só tem guerras, fome e tribos primitivas: a África através das histórias em quadrinhos do Fantasma, Tintim e Soldado Desconhecido.

Ainda hoje as revistas em quadrinhos são vistas com certa desconfiança por muitos historiadores. Por razões diversas, atribuem-se as mesmas um estatuto de objeto infantil ou inútil para a pesquisa histórica. Porém, o que são as revistas em quadrinhos? 

Elas possuem o poder de transmitir ideias e representações, construindo conceitos e preconceitos sobre seus temas, influindo na forma de pensar das pessoas. 

O Fantasma, por exemplo, é um herói que não possui superpoderes. Vive em algum lugar da África, mais precisamente na caverna da caveira, que é também o lugar em que moram os pigmeus bandar, temidos por suas flechas venenosas e ritos mágicos poderosos. As “tribos” africanas acreditam que Fantasma vive há mais de quatrocentos anos, por isso é também conhecido como “O Espírito que Anda”.

 Tintim é um misto de repórter e detetive. Sempre as voltas com investigações diversas, suas viagens mostraram diferentes partes do mundo. A “África” foi um dos muitos lugares visitados por este personagem. Diferente de Fantasma, que tinha no continente africano o cenário da maior parte de suas histórias, Tintim teve apenas uma de suas aventuras neste “lugar”.

 O Soldado Desconhecido, personagem menos famoso do que Tintim e Fantasma, é na verdade um médico ugandense que se refugiou nos Estados Unidos quando criança, e retornou para sua terra natal com o objetivo de reconstruir o país. Perante um cenário de guerras e atrocidades diversas, é tomado por vozes que vieram em sua mente, e decide combater as tropas do Exército do Senhor (LRA), após desfigurar o próprio rosto, em meio a uma crise e angústia que foi tomado diante das mortes de crianças em Uganda. 

Ora retratado como palco de guerras, conforme as páginas do soldado desconhecido, ora como um lugar “de homens e mulheres primitivos”, conforme as páginas das revistas do Fantasma e Tintim, a África foi representada através de estereotipias e clichês. 

Ao longo dos anos, desde o surgimento das revistas do Fantasma no Brasil, na década de 1940, os quadrinhos representaram o continente africano de diferentes maneiras. A maior parte destas histórias protagonizaram diferentes cenários em que os povos do continente africano apareciam de formas grotescas, em alguns casos, a exemplo de Fantasma e Tintim, desenhados de modo que o leitor aceitasse as formas primitivas dos “africanos”.(XXVII - Simpósio Nacional de História - 2013)

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