segunda-feira, 16 de março de 2015

Crepúsculo de Outono Manuel Bandeira

No próximo dia 20 de março começa oficialmente o Outono; mesmo que em Cuiabá não exista uma estação definida é possível apreciar as árvores perderem suas folhas.
Eu já escrevi que gosto de andar pelas ruas e sentir no rosto o mesmo vento suave que balança as folhas ou ficar sentada nos bancos das praças para olhar as folhas amareladas deslizarem até o chão...
Há pouco caiu uma chuvinha mansa e agora estou sentindo o cheiro de terra molhada e o vento fresco do quase Outono. Eu estava lendo uma poesia do magnífico Manuel Bandeira que diz:

"O crepúsculo cai, manso como uma benção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito...
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.

O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.

Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura unânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.

Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale...o horizonte purpúreo...
Consoladora como um divino perdão.

O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.

A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás."

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