sábado, 21 de abril de 2018

Tiradentes: Um herói criado pelos Republicanos

É incrível como os alunos desconhecem a História de alguns feriados no Brasil. E o 21 de abril é um deles... Mesmo que o mito do herói Tiradentes tenha sido uma invenção dos golpistas da República nascente, 15/11/1889, é importante conhecer a História do homem que desafiou a Coroa Portuguesa e foi enforcado e esquartejado em 1792, pois nossos heróis estão morrendo e não existem outros capazes de substituí-los.

Quanto mais conhecermos a História da Proclamação da República, mais entenderemos o Brasil atual e suas contradições. E quem sabe ainda aprenderemos a valorizar realmente os heróis que fizeram a História do Brasil: o Povo.

"O professor José Murilo de Carvalho assevera que “heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva. São, por isso, instrumentos eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos”.

Logo, herói que se preze tem de ter, de algum modo, a cara da nação. Tem de responder a alguma necessidade ou aspiração coletiva, refletir algum tipo de personalidade ou de comportamento que corresponda a um modelo coletivamente valorizado.

A pequena densidade histórica da proclamação da republica – uma passeata militar onde o povo assistiu a tudo bestializado – no dizer de um dos republicanos, não fornecia terreno adequado para a germinação de mitos.

Heróis, nessa época, era Dom Pedro I, José Bonifácio, Duque de Caxias, Marques de Tamandare e a princesa Isabel. Tinha-se a necessidade premente de mudança destes heróis no imaginário popular, saudosos da monarquia.

A busca de um herói que legitimasse a república acabou tendo êxito onde não o imaginavam muitos dos participantes do golpe de 15 de novembro. Quem aos poucos se revelou capaz de atender às exigências da mitificação foi Tiradentes.

Em torno da personagem histórica de Tiradentes houve e continua a haver intensa batalha historiográfica. Até hoje se disputa sobre seu verdadeiro papel na inconfidência, sobre sua personalidade, sobre suas convicções e até sobre a sua aparência física.
 

Machado de Assis, no dia 22 de maio de 1892, em “A Semana” escreve com ironia sobre o novo herói da republica, Tiradentes, que ganhou proeminência só a partir de 1890: “esse Tiradentes se não toma cuidado em si acaba inimigo público. [...] não será possível imaginar que, se não fosse a indiscrição de Tiradentes, que causou o seu suplício, e o dos outros, teria realidade o projeto? Daqui a espião da policia é um passo [...] Mas ainda restará alguma coisa ao alferes; pode-se-lhe expedir a patente de capitão honorário, antes isso que nada”.

Após o golpe militar de 1889, intensificou-se o culto cívico a Tiradentes. O 21 de abril foi declarado feriado nacional já em 1890, juntamente com o 15 de novembro. Além disso, através da imprensa, os republicanos iniciam uma série de alusões a Cristo quando se reportavam a Tiradentes. Um artigo de “O Paiz” de 21 de abril de 1891 fala na “vaporosa e diáfana figura do mártir da Inconfidência, pálida e aureolada, serena e doce como a de Jesus Nazareno”.

A simbologia cristã aparece em inúmeras obras de arte da época, a exemplo do quadro “martírio de Tiradentes”, de Aurélio de Figueiredo, o "mártir" é visto de baixo para cima, como um crucificado, tendo aos pés um frade, que lhe apresenta o crucifixo, e o carrasco Capitania, joelhos dobrados, escondendo o rosto com as mãos. É uma cena de pé na cruz. Esses fatos constituíssem numa tentativa desesperada para que o povo assimilasse o novo herói.

Nunca a construção histórica esteve tão presente em nossa nação como na transição da Monarquia para a República. Nesse momento, o poder político sentiu necessidade da criação de valores republicanos na consciência popular, valendo-se, para isto, de uma ideologia que ajudou a construir os símbolos, as alegorias, os rituais e mitos do novo regime. Utilizou-se da história e dos meios de comunicação para alcançar seu objetivo, que foi a implantação de uma ideologia.

Tiradentes pode ser como Cristo para os religiosos, como o republicano cívico para o cidadão, a figura exemplar para o político se comparar, uma boa história para o historiador ou romancista.

A História Nacional ainda está sendo escrita e como comenta José Carlos Reis, é muito complicado para o povo que está vivendo sua própria realidade, observar profundamente o que se passa no interior dos acontecimentos.

O historiador, também, corre o risco de estar auxiliando ou transmitindo uma ideologia imposta. É necessário ao profissional de história, seja ele um pesquisador ou professor, observar a máquina dominante e a própria história vivida, para não cair nesta armadilha".( ww.historiaegenealogia.com)

1 Barba e cabelo Diferente do que mostram as imagens dos livros didáticos, Tiradentes nunca usou barba e cabelos longos. Por ser militar, o máximo que poderia usar era um discreto bigode. Na hora do enforcamento, ele estava de ca.... - Veja mais em https://noticias.bol.uol.com.br/bol-listas/15-curiosidades-sobre-tiradentes-que-voce-nao-aprendeu-na-escola.htm?cmpid=copiaecola
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi um mártir da Inconfidência Mineira e seu dia é celebrado em 21 de abril desde 1965. Ele foi enforcado em 21 de abril de 1792, na Praça da Lampadosa (atual Praça Tiradentes), no centr... - Veja mais em https://noticias.bol.uol.com.br/bol-listas/15-curiosidades-sobre-tiradentes-que-voce-nao-aprendeu-na-escola.htm?cmpid=copiaecola
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi um mártir da Inconfidência Mineira e seu dia é celebrado em 21 de abril desde 1965. Ele foi enforcado em 21 de abril de 1792, na Praça da Lampadosa (atual Praça Tiradentes), no centr... - Veja mais em https://noticias.bol.uol.com.br/bol-listas/15-curiosidades-sobre-tiradentes-que-voce-nao-aprendeu-na-escola.htm?cmpid=copiaecola
A República fora proclamada, em 1889, e o novo governo ainda não se consolidara. A renúncia de Deodoro em 1891, revoluções na capital e no sul (Revolta da Armada e Revolução Federalista) e a crise econômica e financeira do Encilhamento fragilizavam o novo regime que sequer apoio popular possuía. O desafio de substituir um governo e construir uma nação exigia uma população unida em torno do novo projeto político. Uma das estratégias para tal, era eleger um herói “integrador e portador da imagem do povo inteiro”. Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva. São, por isso, instrumentos eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos. Não há regime que não promova o culto de seus heróis e não possua seu panteão cívico. (…) A falta de envolvimento real do povo na implantação do regime leva à tentativa de compensação, por meio da mobilização simbólica. (José Murilo de Carvalho) Inicialmente, tentou-se alçar à posição de herói republicano os principais participantes do 15 de novembro, entre eles, marechal Deodoro, Benjamin Constant e Joaquim Floriano. Não deu certo. Tiradentes, o único executado na Conjuração Mineira, atendia às exigências da mitificação. O sonho de implantar uma Republica o contrapunha aos monarquistas. Seu nome estava nos clubes republicanos e ele era o herói exaltado pelos setores republicanos mais radicais por sua origem humilde e popular em contraste com a elite econômica e política. Em um contexto de tensões políticas e crise econômico-financeira, Tiradentes inaugura o panteão republicano como elemento integrador, o mártir que deu sua vida à causa republicana e, portanto, o herói cívico, por excelência. Na figura de Tiradentes todos podiam identificar-se, ele operava a unidade mística dos cidadãos, o sentimento de participação, de união em torno de um ideal, fosse ele a liberdade, a independência ou a república. Era o totem cívico. Não antagonizava ninguém, não dividia as pessoas e as classes sociais, não dividia o país, não separava o presente do passado nem do futuro. Pelo contrário, ligava a república à independência e a projetava para o ideal de crescente liberdade futura. A liberdade ainda que tardia. (José Murilo de Carvalho) Tiradentes tornou-se assim símbolo da República e, em 1890, a data de sua morte, 21 de abril foi declarada feriado nacional.

Obrigado por compartilhar. Lembre-se de citar a fonte: http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/tiradentes-esquartejado-uma-leitura-critica/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues
A República fora proclamada, em 1889, e o novo governo ainda não se consolidara. A renúncia de Deodoro em 1891, revoluções na capital e no sul (Revolta da Armada e Revolução Federalista) e a crise econômica e financeira do Encilhamento fragilizavam o novo regime que sequer apoio popular possuía. O desafio de substituir um governo e construir uma nação exigia uma população unida em torno do novo projeto político. Uma das estratégias para tal, era eleger um herói “integrador e portador da imagem do povo inteiro”. Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva. São, por isso, instrumentos eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos. Não há regime que não promova o culto de seus heróis e não possua seu panteão cívico. (…) A falta de envolvimento real do povo na implantação do regime leva à tentativa de compensação, por meio da mobilização simbólica. (José Murilo de Carvalho) Inicialmente, tentou-se alçar à posição de herói republicano os principais participantes do 15 de novembro, entre eles, marechal Deodoro, Benjamin Constant e Joaquim Floriano. Não deu certo. Tiradentes, o único executado na Conjuração Mineira, atendia às exigências da mitificação. O sonho de implantar uma Republica o contrapunha aos monarquistas. Seu nome estava nos clubes republicanos e ele era o herói exaltado pelos setores republicanos mais radicais por sua origem humilde e popular em contraste com a elite econômica e política. Em um contexto de tensões políticas e crise econômico-financeira, Tiradentes inaugura o panteão republicano como elemento integrador, o mártir que deu sua vida à causa republicana e, portanto, o herói cívico, por excelência. Na figura de Tiradentes todos podiam identificar-se, ele operava a unidade mística dos cidadãos, o sentimento de participação, de união em torno de um ideal, fosse ele a liberdade, a independência ou a república. Era o totem cívico. Não antagonizava ninguém, não dividia as pessoas e as classes sociais, não dividia o país, não separava o presente do passado nem do futuro. Pelo contrário, ligava a república à independência e a projetava para o ideal de crescente liberdade futura. A liberdade ainda que tardia. (José Murilo de Carvalho) Tiradentes tornou-se assim símbolo da República e, em 1890, a data de sua morte, 21 de abril foi declarada feriado nacional.

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